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Bem-vindo a nossa casa.

Aqui contamos histórias sobre nossas peripécias dando a volta ao mundo em nosso veleiro. Nós somos: Fabio, Miriam, Caio, Rafael e Cacau e não sabemos onde vamos parar, só sabemos que vamos "Para onde o vento vai".


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Registro do FLYER em Flores - Açores


Olá pessoal, percebemos alguns desenhos pelos muros da marina e resolvemos deixar registrado a passagem do Flyer por Flores.


Não é nehuma obra prima, mas para começar tá bom, precisamos comprar mais tintas e pincéis para a próxima ilha...ADOREIII.



Rafael fez amigos por aqui também e passa o dia brincando, abaixo ele e seu amigo Tomé.


Ontem fomos ao restaurante aqui perto e foi muito divertido chegar lá e descobrir que o Rafael já era conhecido das pessoas. Logo no primeiro dia ele já estava em um churrasco com o pessoal daqui. Esse não perde a oportunidade de fazer amigos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Minha primeira travessia oceânica - parte II

Aos navegadores

A travessia do Atlântico Norte tem dois caminhos possíveis. Ambos tem vantagens e desvantagens. O primeiro caminho segue das Antilhas até Bermudas, de Bermudas para os Açores e dos Açores para Europa (Atlântico ou Mediterrâneo). O segundo caminho é o direto das Antilhas para os Açores e de lá para Europa.

Nós fizemos o caminho direto.

Neste caminho você tem uma estratégia a seguir. Quanto tiver vento, segue o vento num rumo que estiver mais próximo possível do rumo para alcançar seu destino sem forçar o barco. Como o vento não é constante nesta rota, nem sempre aparecendo não existe um rumo geral para apoiar a navegaçao (basta não forçar o barco)

A primeira parte do caminho pegamos ventos vindos de Leste o que nós possibilitava subir num rumo máximo de 030.

Quando nos aproximamos da Alta do Atlântico (zona de Alta Pressão muito persistente que provoca calmarias e ventos inconstantes) começamos a motorar. Sempre que ligavamos o motor nosso rumo era direto para os Açores.

Depois de motorar um tanto, o vento começou a rondar para SW e ficou assim até o final de nossa jornada aos Açores.

Este não é um vento dominante então porque ele apareceu ?

Simples, a época da travessia deve ser escolhida a dedo e a hora da travessia também. Dia 1º de junho começa a temporada de furacões. Então é interessante estar longe do Caribe. A data de saída deve ser em maio. Mas como escolher o dia certo ?

A estratégia é a seguinte: preparar o barco para que ele possa sair a qualquer momento: suprimentos, água, diesel, etc, e ficar esperando um centro de baixa pressão (baixa) se deslocar pela costa leste dos EUA de preferência vindo da Florida. A baixa você acompanha pelo programa uGrib e você identifica porque ela gira em sentido anti-horário (baixa pressão no hemisfério norte).

Esta baixa sobe da Florida com rumo NE. Nesta época do ano o período das baixas é de aproximadamente 7 dias. Então se você perder uma destas baixas deve pegar a próxima. Você deve planejar ficar na margem externa direita (leste/nordeste) da baixa. Se você acompanhar no uGrib você verá algo parecido com uma estrada.

Esta é a estratégia para romper a alta do Atlântico pelo caminho direto.

O pessoal do Luar, Travessura, Luthier pegou essa carona e fez a travessia muito bem sucedida em menos de 20 dias. Eu, infelizmente, não estava com o barco pronto para a travessia junto com eles e me demorei mais de 15 dias para que tudo estivesse pronto para partida. Desta forma, não consegui uma baixa consistente para me levar direto no vento e minha travessia demorou mais de 20 dias por isso, tendo gasto quase toda minha reserva de diesel.

Fiz uma ótima travessia com muito conforto, mas pouco vento. No meu caso o vento dificilmente chegava a 15 nós e quando chegava vinha de SW. Mesmo assim, pesando os prós e contras acredito que a decisão de seguir a rota direta foi acertada.

O único alerta é que a data de saída de ser no mês de maio, sendo certo que é melhor pegar a primeira baixa logo na primeira semana de maio ou no máximo na segunda semana de maio.

Durante a travessia nós usamos o iridium para baixar informações meteorológicas e para nós comunicar com pessoal em terra. O iridium é um telefone satelital que tem cobertura mundial. Com ele você pode mandar SMS e receber SMS sem custo de ligação (SMS -> eMail -> SMS). Ele foi muito útil, apesar de caro, especialmente por causa do que aconteceu conosco.

Nós começamos a receber alertas de tempo ruim vindo de SW dos amigos que acompanhavam a travessia e do Lúcio que estava perto de nossa posição com o veleiro dele o Temujin. A Marinha dos EUA colocou em seu site o alerta de CICLONE e o bicho vinha na nossa direção com ventos de até 40kt e ondas de até 6 metros.

Durante uns 2 dias os alertas foram se mantendo e o bichão vinha chegando. Estamos, no Flyer, ajeitando as coisas para a tempestade, executando mentalmente o checklist de tempo ruim mais de 10 vezes para ver se não tinha esquecido nada. No terceiro dia chegou um aviso que o ciclone estava amansando. Lá pelo quarto dia o bicho chegou com ventos de 15 nós e ondas de 3 metros, muiiiito mais manso que o que estava previsto. Trouxe consigo muita chuva.

Em retrospectiva eu posso afirmar que sai duas semanas depois do prazo. Se tivesse saído na época correta não teríamos passado pelo estresse de esperar um ciclone em formação e estar bem no meio do caminho do bicho.

Experiências vão se acumulando junto com as milhas navegadas, mas uma coisa é certa, esse meio nos ensina a humildade !

MEU DEUS MEU BARCO É TÃO PEQUENO E SEU MAR É TÃO IMENSO !!!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Minha primeira travessia oceânica - parte I

Pessoal

Chegamos...

Foram 23 noites (bem dormidas) e 24 dias de travessia desde Sint Maarten até Flores nos Açores. Eu vou contar a história em dois posts o primeiro mais curto com fotos e o segundo mais para o pessoal que gosta de alguns detalhes de navegação.

Saimos de Sint Maarten juntamente com o veleiro Bravo Uno de nosso amigo Paco. Ele ia fazer em solitário e estamos tentando seguir juntos. A conclusão: Dois dias depois não estavamos mais ao alcance do rádio. Veleiro muito diferentes dificilmente andam juntos.

A saída do lagoon de Sint Maarten tem hora marcada com a ponte. A ponte se levanta algumas vezes ao dia tanto para entrada quanto para saída. Então ficamos em fila do lado de dentro e quando a ponte começa a levantar e o sinal fica verde, lá vamos nós: começa nossa jornada



Mas a saída foi coberta de expectativa e com total e absoluta falta de vento. Não aguentávamos mais ficar parados e a previsão era de 7 dias de bom tempo. Tinha certeza de achar um pouco de vento pelo caminho. Um bom algúrio veio até nós.


Uma caravela indo para oeste. A caravela moderna navegava ao sabor de quase nenhum vento, mas carregada por um belo motor a diesel...

Mesmo assim, foi um momento muito interessante.

Claro que a travessia nos reservava uma série de momentos interessantes, mas começamos bem. Nosso plano era ir a motor quando não tivesse vento e velejar sem forçar o barco no rumo direto entre Sint Maarten e Açores.

Arrumamos o barco para primeira noite, motorando quase sem parar e colocando o alarme AIS (indicativo de navios ao redor) definido para um alcance de 20 milhas. A fama de oceano mais navegado do mundo ficou clara. Era navio a toda hora, precisamos arrumar o AIS outra vez para um range de 5 milhas e depois para 3. Ai a frequência de alarmes passou a ser tolerável.

Fora o intenso tráfego o oceano parecia um lago espelhando o céu. Seguem alguns pores-do-sol para exemplificar





No começo nosso destino era Faial, o porto de entrada dos Açores. Mas tinha esperança que os ventos e as correntes me permitissem ir para Flores. O Caio, meu filho, ia no veleiro TEMUJIN ajudando o Lúcio e o Thiago a fazer a travessia e o Lúcio ia para Flores.

Quando o vento entrava, mesmo 5 nós de vento, nós ajeitavamos as velas para seguir velejando. Eu não tinha reserva de diesel para fazer toda a travessia a motor. Durante os primeiros dias o vento sempre foi manso e favorável. Dava até para tomar um gin-tônica com limão enquanto o piloto automático fazia todo o trabalho.


A animação da tripulação era intensa. Tudo saindo as mil maravilhas. O sorriso na cara da mandante diz tudo...



 Ao contrário do que pensavamos não pescamos nada. Tinhamos tudo preparado para um sashimi perfeito, mas não encontramos nenhum peixe que quisesse participar do almoço. Então achavamos formas de passar o tempo. A Miriam tirou uma foto interessante, demonstrando ainda que o barco estava em mares tranquilos.


A medida que a latitude ia aumentando duas coisas começaram a acontecer com mais frequência, frio e chuva. Junto com isso sempre vem um pouco de vento. Mas nesta fase da travessia nada de novo ou assustador. Algo entre 8 e 12 nós de vento e a maior parte das vezes de sudoeste.

Algumas fotos são esclarecedoras:


A de cima é especialmente trazida para Winston (Olha o pirajá ai gente) !!!


O oceano vai ficando cinza, tanto por cima quanto por baixo. E o frio começa a fazer parte do dia a dia. Nada absurdo, mas a água do mar já não está mais a 29ºC o ventinho começa a exigir camiseta com manga, etc, etc...

Parte da diversão a bordo era a culinária. A Miriam assumiu as compras e trouxe muita coisa interessante para a travessia. Pão em lata por exemplo, peito de frango em lata, etc, etc. Tudo muito prático e suficientemente gostoso para não passarmos fome. A criatividade da mandante determinou o sucesso da culinária. Não repetimos nenhum prato durante toda a travessia, mas o campeão mesmo foi o "CINAMON ROLLS with ICING" minha nossa senhora !!! Pão de canela com cobertura de açúcar cristalizado acompanhado de capucino.


Alguns enlatados foram gratas surpresas (saborosos, cremosos, etc) outros uma porcaria, mas abriu comeu, lei do Flyer.

Outra atividade a bordo que tomava grande parte do tempo era o estudo do Rafael. Eu me transformei num professor em período integral. Em 24 dias de travessia ele fez as tarefas de 2 bimestres que estava acumulado.

O tempo passado junto com o Rafael me ajudou a parar de fumar. Assim que os cigarros acabaram a bordo eu tive que parar de fumar de verdade (a decisão de não levar cigarros era para que a decisão de parar de fumar fosse a única possível). Parei e pronto.

A rotina foi ficando cada vez mais presente, levantar, tarefas com o Rafael, verificar meteorologia, verificar posição e rumo, verificar mudança de rumo para alcançar mais vento, ajustar navegação, lavar louça, almoçar, soneca, banho, mais tarefa com Rafael, mais ajustes na navegação, mais louça para lavar, jantar, filminho a bordo, sono (profundo e tranquilo)

Os dias passavam lentamente, nossa rotina, as coisas do barco, tudo muito simples. Alias a vida é simples, nós é que nos esforçamos para deixá-la complicada e difícil...

A chegada a Flores era esperada e na ante-véspera uma surpresa...


O Rafinha pegou um convidado que resolveu ficar para jantar (alias, foi o jantar).

Flores estava na proa, não visível, chuva forte acompanhada de ventos de 20 a 24 nós e mar de 2 a 3 metros foram companheiros do último dia e noite da jornada. Eu tinha planejado chegar durante o dia, mas com todo esse vento o horário de chegada seria transferido para a madrugada. Não gosto de chegar a noite em local que não conheço, então reduzi velas o máximo para manter um pouco de controle por causa das ondas de popa, mesmo assim não conseguia seguir a menos de 5 nós.

Ao identificar as luzes de Flores eram 3 da manhã. Marquei o ponto na entrada do molhe e toquei para lá. Acabamos por chegar as 7 da manhã o que nós deu tempo para soltar âncora e dormir um pouco para depois adentrar a marina.

A travessia do Atlântico ainda não acabou, mas esta pernada foi muito bem obrigado

A dimensão da pernada dá para ver abaixo




Fim da Parte I