WWW.SOTAVENTO.COM.BR

Bem-vindo a nossa casa.

Aqui contamos histórias sobre nossas peripécias dando a volta ao mundo em nosso veleiro. Nós somos: Fabio, Miriam, Caio, Rafael e Cacau e não sabemos onde vamos parar, só sabemos que vamos "Para onde o vento vai".


sábado, 19 de novembro de 2011

Meu filho deveria ser negro

Me dei conta que as pessoas não mudam verdadeiramente e de maneira definitiva. Somos o produto de anos e anos de escolhas, na maior parte, dos outros.

Eu já assumi de maneira definitiva que não vou mudar.

Isso não é bom nem ruim. Isso é só a realidade dando uma lição de humildade. Todas as experiências de uma vida vão se acumulando de maneira que sempre teremos mais e mais certeza de nossas escolhas o que torna as coisas cada vez mais duras e engessadas.

O que isso tem a ver com o fato de que meu filho deveria ser negro ??

Simples: Sou brasileiro, logo meu filho é negro

Claro que o fato de eu ser Afrodescendente me coloca em posição de não questionar estas afirmações feitas aqui nas Canárias, mas ninguém sabia que meu pai era italiano nascido no Egito, então de onde veio a certeza de que meu filho deveria ser negro ?

Bom, o Caio conheceu o Alberto que é filho do Alberto Pai que está trabalhando no Lady Blue. Eles foram para balada a convite do Alberto filho que queria apresentar o Caio para uns amigos Canarios. Parece que a noite foi boa, mas no dia seguinte o Caio comentou: Pai... eles achavam que eu seria negro !!!

Tudo no que acreditei ao longo de minha vida sobre mundo civilizado, racismo, educação e cultura, afinal quase tudo voltou para me atormentar. Todos os meus conceitos e preconceitos acabaram por me presentar com um epifanía: Sou brasileiro e filho de um Africano, então eu sou negro, se eu sou negro, então meu filho deveria ser negro. Desta forma eu estaria enquadrado e atenderia o preconceito de um grupo de jovens sobre os brasileiros e dos próprios brasileiros sobre si mesmos.

Isso não muda nada, mas foi uma enorme lição de vida.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Eu não acredito em coincidências, pero que las hay, las hay !!!

Veja se encontra a coincidência entre as seguintes frases:

Para onde o vento me levar
Para onde o vento vai
Sotavento

Difícil ? Um veleiro chamado Lady Blue. Nossa nova casa.

A história começou faz alguns dias. Eu estava no Brasil quando a Miriam ligou para mim e disse. Vou para as Canárias. Tem um veleiro por lá que eu quero ver... Com o tempo eu aprendi que algumas decisões são assim e pronto.

Ao retornar das Canárias para Portugal a Miriam já tinha me dito. Vamos comprar este veleiro. Eu gostei dele. Até este momento eu não tinha a menor ideia de qual veleiro era. De pronto me surpreendi: Um Jeanneau 45.1. Um dos meus sonhos de consumo que estavam se materializando.

Porque as coisas são como são ?

Uma família Uruguaia num certo momento de sua vida e nós em outro momento completamente diferente. Eles mudando para terra e nós para o mar. Nossa experiência de vivência  na volta pelo Atlântico foi maravilhosa e cheia de experiências.

Mas e as coincidências...

Bom, conhecemos o Ricardo. Cara muiiiito legal. Ele nos disse que em determinado momento de sua vida ele ficou conhecendo as possibilidades náuticas porque conheceu um cara que tinha um site que se chamava "Para onde o vento me levar" então ele resolveu seguir a vida no mar. Depois de um certo tempo ele resolveu vender sua casa no mar (Ela se chama Lady Blue) e nós resolvemos comprar. Por incrível que pareca nosso blog é "Para onde o vento vai"... As coisas começam a ficar estranhas. Claro que nosso blog tem um site que faz o redirecionamento o site é www.sotavento.com.br.

Sotavento quer dizer para onde o vento vai, então as coincidências ficariam pelo viez da semântica. Mas acontece que fechamos o negócio nas Canárias, no Molle Deportivo, ao lado do Centro Comercial Sotavento !!!

Ao final eu não creio em coincidências, pero que las hay, las hay !!!


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A eficiência quase causa um problema de saúde nas Canárias...


Eu precisei enviar um documento certificado para os EUA então fui ao Consulado Americano nas Canárias para pegar informações sobre como deveria proceder porque já tive um pesadelo com o Consulado Brasileiro em Portugal. No Consulado Brasileiro eu levei uma semana só para marcar um horário para ser atendido dentro de 2 meses (claro que teria uma possibilidade de ser atendido com certa urgência ...)

Bom ao chegar lá com o documento em mãos fui atendido por uma funcionária que me perguntou o que eu precisava, pegou o documento, levou ao Consul e me trouxe de volta com um recibo para pagar pelo serviço. Tudo levou exatamente 5 minutos.

Eu tive um troço, meu coração palpitou, me senti tonto e com a boca seca... Etc, etc, etc. Pensei: Isso não podia estar acontecendo, não comigo... Tudo em menos de 5 minutos, eu não estava preparado para isso, afinal eu sou Brasileiro...

Nós Brasileiros não estamos acostumados com a eficiência. Ela nós faz mal...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Onde fica a metade da minha vida ?

Com o tempo percebemos que não existe esse negócio de metade de nada. A metade não passa de uma sensação. Um momento onde você muda seu rumo, sua direção e volta para suas origens.

Acho que vale uma explicação antes de continuar...

Você já teve a sensação que só entendeu de verdade um livro depois de muitos anos ?
Então: Quando eu era jovem (faz tempo)..., eu lia O HOMEM QUE CALCULAVA (Malba Tahan) e não dei muita bola para uma das passagens do livro. Nela o autor disse que um monarca de um reino distante, por algum motivo, havia determinado que todas as sentenças de todos os prisioneiros fossem reduzidas a metade.

Do alto de minha ignorância juvenil (que tem se preservado muito bem como a experiência) eu não via nenhum problema. Acontece que alguns dos prisioneiros estavam condenados a pena perpétua. Então: como descobrir quando o prisioneiro morreria para que sua pena fosse reduzida a metade ?

Claro que não vou dizer como o autor resolveu o problema (compre o livro e leia), mas hoje eu pensei: Estou no meio do caminho ???

O Flyer está no estaleiro em Portimão. Estamos terminando nossa preparação para retorno para Brasil. Na próxima terça-feira vamos para água e começamos a longa jornada de retorno. Vamos parar nas Canárias e depois vamos resolver se conhecemos ou não Cabo Verde. Nosso destino de lá será Salvador e em seguida descendo até chegarmos a poita do Flyer em Ilhabela, voltando as origens.

Que meio do caminho é esse ?

Meio do caminho: pronto. Meio da vida, Meio do oceano, etc, etc, etc, nada demais. Só um marco, só uma passagem. Eu não sei quanto tempo de vida ainda tenho pela frente, então sempre que eu chegar a algum lugar eu penso, estou no meio do caminho...

É provável que eu não viva para sempre, mas a sensação de que tem algo a ser feito é o que me move. Dúvida se transforma em pergunta e pergunta nos faz continuar. Sempre estou cheio de dúvidas. A certeza cria a estagnação e a estagnação é um dos estágios que antecedem a morte. Fica aqui o conselho: Não tenha muita certeza das coisas, especialmente onde fica a metade de qualquer caminho...

sábado, 24 de setembro de 2011

O alcance de uma flexa

O arqueiro arqueia o arco e se torna o arco. A flecha uma extensão de seu corpo e uma vez solta se desloca levando consigo a vontade do arqueiro.

Nossa vida ora recheada de realizações ora coberta de frustrações nós mostra que vamos tão longe quanto nossa vontade nos permite. Nos sentimos livres e vivemos todos os momentos de nossa trajetória com a certeza que sabemos para onde vamos e com mais certeza ainda que temos o controle do que se passa conosco.

Agora estamos aqui, dentro de alguns dias estaremos lá. Isso é nossa vontade se manifestando. Hoje eu tenho isso, amanhã eu vou ter aquilo. E centramos nossos pensamentos em fazer e ter. Vida social que nos impõe comportamentos, coisas, lugares. Velejadores são diferentes. Abrem mão de muita coisa e ganham em troca muito mais.

Mas com o tempo e com um pouco de humildade voltamos nosso pensamento para a verdade. Somos como a flecha. Temos a ilusão da escolha, mas o que levamos conosco é nada mais nada menos que a vontade do arqueiro. A flecha não se desvia.

Está na hora de voltar, mesmo que seja uma volta temporária. A hora chegou. O Mar passou a ser nossa pátria, nossa nação, nossa casa. Nele falamos o idioma desconhecido para os que tem raízes em terra. Voltamos para ver nossos entes queridos. Para curar a dor da saudade.

Essa volta representa um momento de reflexão. A flecha lançada não é capaz de voltar, segue sempre em frente, então porque voltamos? Nossa vontade é mais forte que a vontade do arqueiro ?

Não acredito...

Como a flecha que já foi lançada temos que voltar ao mar sem o qual a vida, nossa vida, não será mais possível. Nosso primeiro trecho já foi coberto. Estamos na metade do caminho de nossa primeira etapa. Águas que, de agora em diante, nos levarão de volta para nosso ponto de partida.

A flecha continua sua trajetória. Até onde a flecha vai ?

Não sei.

domingo, 18 de setembro de 2011

Estou farto de explicações...

Eu ainda me surpreendo com algumas coisas.

Conversando com uma amiga de Gibraltar eu recebi a informação que aqui os ônibus são gratuitos. Você vai para qualquer lugar em Gibraltar sem ter que pagar ônibus. É assim e pronto. Disse isso com uma naturalidade britânica. Soou como se a coisa fosse normal.

Não se paga ônibus e pronto. Porque eu deveria pagar para usar transporte público se este recurso é pago com o dinheiro dos impostos ?

Ficou na minha mente uma pergunta. Eu tenho milhares de motivos para explicar porque o serviço de transporte público deve ser pago, mas nenhum é capaz de responder a essa simples pergunta.

Sei lá... Eu nasci brasileiro e acredito que tenho que pagar os impostos para sustentar o estado para que ele me dê saúde, transporte, segurança, educação, lazer e tudo o mais que inutilmente foi colocado na Constituição da República de Bananas do Brasil. Como o estado não dá nada disso eu pago pela assistência médica particular, pago pelo transporte, pago o maior imposto do mundo na compra de um carro, tenho que morar num condomínio para deixar os ladrões do lado de fora, etc,etc,etc. Isso tudo é muito natural para todo brasileiro, mas depois que você abre os olhos, vendo o mundo ao redor, isso parece tão irreal !!!

""'Porque não pode ser gratuito ?"""

Essa é uma pergunta muito difícil de responder quando se é brasileiro !!!


Sinceramente, espero que alguém possa me CONVENCER porque não !!!

Estou farto de explicações...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Impressões sobre o desenvolvimento

Quero fazer um churrasco !!!

Não podemos fazer sem avisar os bombeiros !!!

No princípio não acreditei nisso, mas com o tempo e com uma visão um tanto mais apurada sobre a realidade acabei por entender porque

A Cláudia (brasileira radica em Gibraltar que junto com seu marido Derek se tornaram companheiros e amigos) me falou sobre a necessidade de ligar para os bombeiros para avisar que vamos fazer um churrasco. E ela ligou e realmente precisa avisar e passar os detalhes sempre que alguém quiser acender um fogo (qualquer fogo)...

Por mais absurdo que isso possa parecer, para nós brasileiros, isso é razoável !!!

O desenvolvimento tem seu preço. Um lugar onde não existe pobreza, onde o que se paga de impostos reverte em benefícios, onde a assistência médica é gratuita e funciona de verdade (se em Gibraltar não tiver o tratamento o ESTADO paga a transferência, passagem, hospedagem e as despesas para onde o tratamento pode se efetivar, sem filas, sem propinas, pelo simples fato de se pagar os impostos). As crianças recebem educação pública de qualidade e se quiserem fazer faculdade o fazem por conta do ESTADO, inclusive com os custos de habitação e materiais incluídos...

Ter que avisar que vai fazer um churrasco é um preço muito baixo para todos estes benefícios...

Que tal implantarmos, no Brasil, a campanha: AVISE ONDE É SEU CHURRASCO !!!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

No meio do caminho tinha uma Rocha

Não fazia a menor idéia onde ou que estaria fazendo um ano depois da decisão, mas decisão é decisão, então vamos em frente. Planejar e executar o plano com os mínimos detalhes. Meu Deus, quanto coisa para fazer e o tempo tão curto !!!

Claro, eu não tinha muita experiência em navegação, o Flyer é muito pequeno? A tripulação passaria bem ? As travessias serão difíceis? etc, etc, etc

Ao ouvir os comentários dos outros navegantes sobre as dificuldades quase desisti. Deus como as coisas são difíceis de conseguir !!!

Desde que estas dúvidas apareceram até o momento presente uma eternidade de experiências e vivências se passou. Foi um ano, alias mais que um ano, vivendo a bordo de um veleiro de 30 pés. Eu, a Miriam, o Caio e o Rafael entramos nessa aventura para fazer o cruzeiro Costa Leste 2010 com destino a Fernando de Noronha e agora no estreito encontramos essa Rocha. Gigantesca e cheia de significado.  Gibraltar e suas caracteristicas é um ponto de controle.

Se chegamos até aqui devemos olhar para nossos sonhos, medos e anseios e fazer um balanço.

Cada fase da viagem foi peculiar. As primeiras experiências numa flotilha. A rotina de navegar em grupo. A amizade que não se esvaeçe. A chegada a Fernando de Noronha. Subir para o Caribe, atravessar o Caribe. As experiências com idiômas e costumes completamente diferentes. A travessia do Atlântico. Açores e os novos amigos. A segunda fase da travessia do Atlântico. A chegada ao velho continente e agora Gibraltar...

É muito peculiar a aproximação do estreito. Estamos saindo do Atlântico para passar por entre dois gigantes, de um lado Gibraltar (A Rocha) a Montanha de Tariq (Tariq ibn Ziyad) e do outro o Monte Ábila (ou monte Hacho). Ambos abertos, segundo a mitologia, por Hércules e são então conhecidos por Pilares de Hércules.

Ao chegar aqui a noite pelo estreito, em meu turno eu vi um cenário de luzes de ambos os lados. Quase pude tocar tanto a Europa quanto a África. Não havia diferença. Luzes de ambos os lados. Só isso.

O oceano Atlântico ficando para trás e o Mediterrêno se descurtinando.

Um mundo de novas experiências ?
Quem sabe...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Marcas e passagens

Quanto mais o tempo passa menos sei sobre as pessoas e sobre as coisas ! A vida simples de velejador, a conquista diária, acordei ! Quais são as marcas de uma vida de descobrimentos ? O que descobrimos sobre nós mesmos.

Acho que este deve ser o objetivo. A auto descoberta coloca-nos diante da vida com a forte determinação de continuar. A cada descoberta uma marca, as vezes indelevel, permanece em nós. Marcas que muitos acabam por chamar de experiências. Algumas amargas, porque a vida precisa de equilíbrio, mas as experiências vão moldando o barro até nos transformar no que somos. O que eu estou fazendo agora quebra o barro endurecido de uma vida estagnada e mistura água para gerar barro novo e continuar o processo de moldagem.

Isso não tem fim, mas deixa marcas. Algumas são interiores outras eu fiz questão de deixar do lado de fora. Os que me conhecem pessoalmente saberão que houve uma passagem e que essa passagem deixou uma marca e que essa marca serve para lembrar para mim mesmo e para quem quiser ser lembrado: É POSSÍVEL.

domingo, 7 de agosto de 2011

Travessia do Atlântico - Parte II - Detalhes Técnicos

Para os amigos velejadores

O anticiclone dos Açores tem este nome porque tem seu centro próximo dos Açores e por ser uma zona de alta pressão mantém a circulação do ar no sentido horário (hemisfério norte). A travessia dos Açores para Europa (Portugal ou mais para Baixo entrando no mediterrâneo por Gibraltar) deve ser feita sempre aproveitando o anticiclone. Veja seu comportamento no link abaixo


Os ventos que ajudam na travessia são os que vem de Oeste. Estes ventos são próprios do Anticiclone e devem ser aproveitados. A estratégia é subir de São Miguel que fica a 38 Norte para 40 ou 41 Norte com o vento pela alheta e seguir assim até próximo da costa Portuguesa.

Em Portugal é comum você encontrar ventos de Norte de 20 a 30 nós com ondas de 4 a 5 metros, então quanto mais você estiver ao Norte melhor para a chegada. Mas não exagere. Se passar de 41 você pode pegar ventos bem mais fortes que sobem junto com as baixas que passam sobre o anticiclone seguindo para Nordeste.

O mais importante é o sincronismo da saída e da chegada. Espere o momento certo. Eu fiquei esperando este momento da travessia por duas semanas antes de largar amarras em São Miguel.

Nas 788 milhas desta pernada pegamos quase sempre ventos de través e alheta (tanto de bombordo quanto de boreste) mas entre as mudanças de vento algumas horas de calmaria. Desta vez usamos pouco diesel.

Durante a travessia você deve baixar as previsões (eu uso o iridium para isso) para áreas menores que podem lhe ajudar a fazer acertos no rumo ou preparação para mudanças (elas podem ocorrer e é melhor estar preparado)

Fora isso a preparação para 10 dias (fizemos em 7) com suprimentos, água, diesel, etc.

Agora fica um detalhe interessante. Mais uma ferramenta que vale a pena ter no seu PC. O software se chama Visual Passage Planner 2. Ele tem todas as cartas piloto do mundo inteiro e ajuda a fazer o planejamento de qualquer travessia.

O mais importante: antes de planejar a travessia converse com quem já fez, de preferência mais de uma vez, a mesma travessia e pegue dicas. Lembre-se que a responsabilidade sempre será sua porque a decisão de sair é sua sempre.

Seja resoluto na questão meteorológica. Se não tiver segurança: Não SAIA.

Veja o exemplo abaixo:


O mesmo anticiclone dos Açores uma semana antes de nossa saída. Eu podia ter saído, mas repare o tamanho da pista de vento com 20 nós e os ventos próximos de Portugal em 25 a 30 nós. Passaria 6 dias orçando e forçando a tripulação e o Flyer sem necessidade. Estava tudo pronto para sair e quando eu decidi não atravessar foi só cara feia, mas a decisão foi tomada e, em retrospectiva eu acredito que foi correta.

A travessia do Atlântico

Um certo frio na barriga.

Pronto: Estamos do outro lado do Atlântico. Sabe aquela imensidão de água sem fim; chegamos do outro lado. O frio na barriga aumenta. Puxa: É assim que nos sentimos então... É assim que se sentiram os navegadores... Os exploradores...

A verve de correr os sete mares tem uma explicação: nós simplesmente gostamos de aventuras. Para quem quer saber qual o segrego aqui eu conto: A coragem para largar amarras e sair. Esse foi o ponto crucial de nossas vidas.

O resto veio sem pressa e na hora certa. Associar-se com as pessoas corretas, amizades, recursos, oportunidades, conhecimento e vivência para nós e para nossos filhos. E olha que o Flyer tem somente 30 pés e somos 4 a bordo !!! Falta luxo, sobra calor humano.

Que oportunidade eles estão tendo... Acho que eles saberão dar valor a isto dentro de alguns anos. Agora é só curtir e aprender: Aprender história nos museus, geografia nos lugares, línguas com os nativos ( e precisamos aprender a falar o português novamente ... ) e aprender quão diverso o mundo pode ser...

A travessia da minha vida já foi feita. Aqui eu declaro que vou colocar um brinco na orelha para identificar esta fase. Atravessei o oceano de incertezas e cheguei do outro lado para contar a história.

O gosto de quero mais é muito intenso, então vamos atrás dos outros 6 mares...

sábado, 23 de julho de 2011

A doce dor da partida

A hora da saída se aproxima. Senão hoje, qualquer dia daqui para frente. Enquanto a chegada é coberta de expectativas a partida nos visita com um matiz de emoções que vão da alegria a tristeza.

A rotina do velejador é repleta de chegadas e partidas. De portos e pessoas. Algumas ficam para sempre na memória que é o lugar onde podemos visita-las com mais frequência. Outras mantem laços mesmo que a milhares milhas de distância ligando nossa trilha com seus sonhos...

Mas a hora de ir se aproxima e com ela tentamos nos atarefar de maneira intensa de tal sorte que os sentimentos de tristeza fiquem embotados. É assim que as coisas funcionam. É assim que devem ser.

sábado, 16 de julho de 2011

Caminhos nos Açores

Com a ajuda do Gigante (Veleiro EntrePolos) abaixo se vê nosso trajeto pelos Açores. Nosso caminho por aqui tem sido de muitos lugares lindos e de um povo incomum, carinhoso e receptivo. E de alguns brasileiros que deixam marcas...

As imagens mostram nossos caminhos até aqui

Saímos do Faial para Terceira

De Terceira para São Miguel

Os caminhos por aqui nem sempre são tranquilos. Existem vulcões em atividade submarina e é interessante passar longe deles. A Miriam, na travessia entre Terceira e São Miguel, viu uma grande luz vermelha a noite no horizonte. Luz muiiiiito estranha... Quem sabe ela conta em um post sobre isso...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tradição atualizada

A Dona Regi e a Cibele aceitaram minha sugestão e vão começar com um novo costume. Colocar bandeiras de velejadores em um mural na Casa do Pão de Queijo. Brazucas e outros velejadores são bem vindos para deixar suas impressões.

Abaixo o momento em que uma tradição pode estar começando ...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Segundas impressões de Terceira

Conseguimos, finalmente, conhecer os outros encantos que a ilha nos reservava.

Depois de passar pelo Monte Brasil (Caldeira de Vulcão que tem fama de ter sido o local onde os navegadores portugueses tomaram as medidas astronômicas para chegar ao Brasil) fomos para Gruta do Natal e o Algar do Carvão. Ambos os locais são formações vulcânicas bem típicas da região e muito interessantes para uma visita instrutiva sobre geologia.

Um novo passeio a Serra do Cume, para fotos melhores com mais luz e o lugar realmente dá vertigem a quem não está preparado para as alturas.

Outro compromisso do dia. Tourada a moda Terceira. Neste tipo de tourada existente na Terceira os touros bravos não são propriamente soltos na rua, uma vez que existe um cabo longo preso ao touro que é seguro por vários vaqueiros. O touro parece realmente bravo e fica correndo atrás de todos que por ousadia cruzam-lhe o caminho.

É um grande evento local, vem gente de todos os lugares que se abrigam nos muros altos, nas praças, etc e ficam a espera do touro, atualizando as conversas. Muitos vendedores ambulantes e muita algazarra.

O dia terminou, mas ficou a certeza de que muitas outras coisas serão vistas em nossa próxima visita. Acho que nem as terceiras impressões ou mesmo as quartas impressões serão capazes de descrever bem esta ilha...

Algumas fotos só como ilustração


O forte no Monte Brasil


Vista da Serra do Cume 

O Rafinha na entrada da Gruta do Natal
Mi num dos túneis da Gruta do Natal

Praia de Açoriano (é raro achar areia...)

A descida para o Algar do Carvão

Quando chega lá embaixo lembramos que temos que subir ...

O povo esperando o touro


Um dos poucos corajosos remanescentes...

domingo, 3 de julho de 2011

Primeiras impressões da Terceira

Seguramente esta é a mais charmosa de todas as marinas que estivemos até agora. O nome já nos faz antever coisas grandiosas, afinal Angra do Heroísmo não é pouca coisa não, ainda mais que o heroísmo em questão se deve ao comportamento de uma mulher que juntando um exército quase exclusivamente feminino acompanhado de touros bravios não permitiu que este lado da ilha fosse tomado pelos Espanhóis.

Alias, a Terceira, é a única dos Açores que não teve domínio espanhol, segundo os locais.

Depois de uma caminhada pelo centro, bem ao estilo do que já vimos muito frequentemente na Europa, encontramos a Casa do Pão de Queijo. Dona Regi faz pão de queijo todos os dias, de segunda a segunda, coxinha a moda brasileira e principalmente feijoada, além de outros quitutes da cozinha mineira. Parada obrigatória de todos os brasileiros por estas paragens.

Alugamos um carro. Esta ilha merece ser conhecida com paciência. As vistas e os locais naturais são encantadores, como as outras ilhas dos Açores e o povo é doce como o povo Português dos Açores costuma ser.

Passamos pelo museu do vinho onde aprendemos um pouco da história do vinho local e das qualidades de uva e demais características. Ficou claro que nos Açores o melhor vinho é o vinho branco. E trouxemos um pouco para degustar no Flyer.

Fomos até o restaurante Caneta, pois a Miriam queria experimentar um quitute local muito apreciado, Lapas grelhadas e eu estava com vontade de comer Bacalhau grelado. Tudo muito saboroso.

No final do passeio de hoje pegamos a via expressa muito parecida com as Europeias. Estranho mesmo foi encontrar uma estrada deste porte em uma pequena ilha no meio do Oceano Atlântico.

A Miriam decretou, vamos ficar mais um dia.

Então até mais, ainda na Terceira.

Seguem abaixo algumas das mais de 500 fotos só do dia de hoje

A casa do Pão de Queijo na Terceira serve também feijoada

Arquitetura local

Vista da Marina d´Angra


As Lapas grelhadas

Miriam e Rafa na Serra do Cume

Chegamos outra vez em Angra 

sábado, 2 de julho de 2011

Horta - Faial - Açores

Horta, tradicional porto de chegada para quem cruza o Atlântico rumo a Europa, reserva uma estrutura interessante para o cruzeirista. Não espere a abundância de lojas e serviços náuticos que você encontra no Caribe.

A Marina da Horta é sem dúvida um local para descansar e recuperar forças para o resto da travessia (onde sempre se encontram ventos e mares mais bravios). O povo é por demais acolhedor e tudo faz para que sejamos bem recebidos. Até bicicleta grátis podemos pegar na praça da Marina, com a promessa de devolver às oito da noite.

Ao passear pela ilha do Faial sentimos que ainda estamos uma ilha oceânica com suas características e peculiares formações geológicas, inclusive com a obrigatória visita ao Museu do Capelinho (Vulcão que entrou em erupção na década de 50).

Não se pode deixar de falar do Peter Café, que assoberbado pela fama e pelo movimento esqueceu como fazer comida de bom gosto, sendo pouco mais que razoável a permanência, especialmente por causa do bom atendimento.

Horta de Faial é o que é graças em parte a tradição, mas não tão formosa quanto Flores, devemos esperar para ver as demais ilhas antes de denotar mais ou menor categorização aos seus encantos.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Registro do FLYER em Flores - Açores


Olá pessoal, percebemos alguns desenhos pelos muros da marina e resolvemos deixar registrado a passagem do Flyer por Flores.


Não é nehuma obra prima, mas para começar tá bom, precisamos comprar mais tintas e pincéis para a próxima ilha...ADOREIII.



Rafael fez amigos por aqui também e passa o dia brincando, abaixo ele e seu amigo Tomé.


Ontem fomos ao restaurante aqui perto e foi muito divertido chegar lá e descobrir que o Rafael já era conhecido das pessoas. Logo no primeiro dia ele já estava em um churrasco com o pessoal daqui. Esse não perde a oportunidade de fazer amigos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Minha primeira travessia oceânica - parte II

Aos navegadores

A travessia do Atlântico Norte tem dois caminhos possíveis. Ambos tem vantagens e desvantagens. O primeiro caminho segue das Antilhas até Bermudas, de Bermudas para os Açores e dos Açores para Europa (Atlântico ou Mediterrâneo). O segundo caminho é o direto das Antilhas para os Açores e de lá para Europa.

Nós fizemos o caminho direto.

Neste caminho você tem uma estratégia a seguir. Quanto tiver vento, segue o vento num rumo que estiver mais próximo possível do rumo para alcançar seu destino sem forçar o barco. Como o vento não é constante nesta rota, nem sempre aparecendo não existe um rumo geral para apoiar a navegaçao (basta não forçar o barco)

A primeira parte do caminho pegamos ventos vindos de Leste o que nós possibilitava subir num rumo máximo de 030.

Quando nos aproximamos da Alta do Atlântico (zona de Alta Pressão muito persistente que provoca calmarias e ventos inconstantes) começamos a motorar. Sempre que ligavamos o motor nosso rumo era direto para os Açores.

Depois de motorar um tanto, o vento começou a rondar para SW e ficou assim até o final de nossa jornada aos Açores.

Este não é um vento dominante então porque ele apareceu ?

Simples, a época da travessia deve ser escolhida a dedo e a hora da travessia também. Dia 1º de junho começa a temporada de furacões. Então é interessante estar longe do Caribe. A data de saída deve ser em maio. Mas como escolher o dia certo ?

A estratégia é a seguinte: preparar o barco para que ele possa sair a qualquer momento: suprimentos, água, diesel, etc, e ficar esperando um centro de baixa pressão (baixa) se deslocar pela costa leste dos EUA de preferência vindo da Florida. A baixa você acompanha pelo programa uGrib e você identifica porque ela gira em sentido anti-horário (baixa pressão no hemisfério norte).

Esta baixa sobe da Florida com rumo NE. Nesta época do ano o período das baixas é de aproximadamente 7 dias. Então se você perder uma destas baixas deve pegar a próxima. Você deve planejar ficar na margem externa direita (leste/nordeste) da baixa. Se você acompanhar no uGrib você verá algo parecido com uma estrada.

Esta é a estratégia para romper a alta do Atlântico pelo caminho direto.

O pessoal do Luar, Travessura, Luthier pegou essa carona e fez a travessia muito bem sucedida em menos de 20 dias. Eu, infelizmente, não estava com o barco pronto para a travessia junto com eles e me demorei mais de 15 dias para que tudo estivesse pronto para partida. Desta forma, não consegui uma baixa consistente para me levar direto no vento e minha travessia demorou mais de 20 dias por isso, tendo gasto quase toda minha reserva de diesel.

Fiz uma ótima travessia com muito conforto, mas pouco vento. No meu caso o vento dificilmente chegava a 15 nós e quando chegava vinha de SW. Mesmo assim, pesando os prós e contras acredito que a decisão de seguir a rota direta foi acertada.

O único alerta é que a data de saída de ser no mês de maio, sendo certo que é melhor pegar a primeira baixa logo na primeira semana de maio ou no máximo na segunda semana de maio.

Durante a travessia nós usamos o iridium para baixar informações meteorológicas e para nós comunicar com pessoal em terra. O iridium é um telefone satelital que tem cobertura mundial. Com ele você pode mandar SMS e receber SMS sem custo de ligação (SMS -> eMail -> SMS). Ele foi muito útil, apesar de caro, especialmente por causa do que aconteceu conosco.

Nós começamos a receber alertas de tempo ruim vindo de SW dos amigos que acompanhavam a travessia e do Lúcio que estava perto de nossa posição com o veleiro dele o Temujin. A Marinha dos EUA colocou em seu site o alerta de CICLONE e o bicho vinha na nossa direção com ventos de até 40kt e ondas de até 6 metros.

Durante uns 2 dias os alertas foram se mantendo e o bichão vinha chegando. Estamos, no Flyer, ajeitando as coisas para a tempestade, executando mentalmente o checklist de tempo ruim mais de 10 vezes para ver se não tinha esquecido nada. No terceiro dia chegou um aviso que o ciclone estava amansando. Lá pelo quarto dia o bicho chegou com ventos de 15 nós e ondas de 3 metros, muiiiito mais manso que o que estava previsto. Trouxe consigo muita chuva.

Em retrospectiva eu posso afirmar que sai duas semanas depois do prazo. Se tivesse saído na época correta não teríamos passado pelo estresse de esperar um ciclone em formação e estar bem no meio do caminho do bicho.

Experiências vão se acumulando junto com as milhas navegadas, mas uma coisa é certa, esse meio nos ensina a humildade !

MEU DEUS MEU BARCO É TÃO PEQUENO E SEU MAR É TÃO IMENSO !!!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Minha primeira travessia oceânica - parte I

Pessoal

Chegamos...

Foram 23 noites (bem dormidas) e 24 dias de travessia desde Sint Maarten até Flores nos Açores. Eu vou contar a história em dois posts o primeiro mais curto com fotos e o segundo mais para o pessoal que gosta de alguns detalhes de navegação.

Saimos de Sint Maarten juntamente com o veleiro Bravo Uno de nosso amigo Paco. Ele ia fazer em solitário e estamos tentando seguir juntos. A conclusão: Dois dias depois não estavamos mais ao alcance do rádio. Veleiro muito diferentes dificilmente andam juntos.

A saída do lagoon de Sint Maarten tem hora marcada com a ponte. A ponte se levanta algumas vezes ao dia tanto para entrada quanto para saída. Então ficamos em fila do lado de dentro e quando a ponte começa a levantar e o sinal fica verde, lá vamos nós: começa nossa jornada



Mas a saída foi coberta de expectativa e com total e absoluta falta de vento. Não aguentávamos mais ficar parados e a previsão era de 7 dias de bom tempo. Tinha certeza de achar um pouco de vento pelo caminho. Um bom algúrio veio até nós.


Uma caravela indo para oeste. A caravela moderna navegava ao sabor de quase nenhum vento, mas carregada por um belo motor a diesel...

Mesmo assim, foi um momento muito interessante.

Claro que a travessia nos reservava uma série de momentos interessantes, mas começamos bem. Nosso plano era ir a motor quando não tivesse vento e velejar sem forçar o barco no rumo direto entre Sint Maarten e Açores.

Arrumamos o barco para primeira noite, motorando quase sem parar e colocando o alarme AIS (indicativo de navios ao redor) definido para um alcance de 20 milhas. A fama de oceano mais navegado do mundo ficou clara. Era navio a toda hora, precisamos arrumar o AIS outra vez para um range de 5 milhas e depois para 3. Ai a frequência de alarmes passou a ser tolerável.

Fora o intenso tráfego o oceano parecia um lago espelhando o céu. Seguem alguns pores-do-sol para exemplificar





No começo nosso destino era Faial, o porto de entrada dos Açores. Mas tinha esperança que os ventos e as correntes me permitissem ir para Flores. O Caio, meu filho, ia no veleiro TEMUJIN ajudando o Lúcio e o Thiago a fazer a travessia e o Lúcio ia para Flores.

Quando o vento entrava, mesmo 5 nós de vento, nós ajeitavamos as velas para seguir velejando. Eu não tinha reserva de diesel para fazer toda a travessia a motor. Durante os primeiros dias o vento sempre foi manso e favorável. Dava até para tomar um gin-tônica com limão enquanto o piloto automático fazia todo o trabalho.


A animação da tripulação era intensa. Tudo saindo as mil maravilhas. O sorriso na cara da mandante diz tudo...



 Ao contrário do que pensavamos não pescamos nada. Tinhamos tudo preparado para um sashimi perfeito, mas não encontramos nenhum peixe que quisesse participar do almoço. Então achavamos formas de passar o tempo. A Miriam tirou uma foto interessante, demonstrando ainda que o barco estava em mares tranquilos.


A medida que a latitude ia aumentando duas coisas começaram a acontecer com mais frequência, frio e chuva. Junto com isso sempre vem um pouco de vento. Mas nesta fase da travessia nada de novo ou assustador. Algo entre 8 e 12 nós de vento e a maior parte das vezes de sudoeste.

Algumas fotos são esclarecedoras:


A de cima é especialmente trazida para Winston (Olha o pirajá ai gente) !!!


O oceano vai ficando cinza, tanto por cima quanto por baixo. E o frio começa a fazer parte do dia a dia. Nada absurdo, mas a água do mar já não está mais a 29ºC o ventinho começa a exigir camiseta com manga, etc, etc...

Parte da diversão a bordo era a culinária. A Miriam assumiu as compras e trouxe muita coisa interessante para a travessia. Pão em lata por exemplo, peito de frango em lata, etc, etc. Tudo muito prático e suficientemente gostoso para não passarmos fome. A criatividade da mandante determinou o sucesso da culinária. Não repetimos nenhum prato durante toda a travessia, mas o campeão mesmo foi o "CINAMON ROLLS with ICING" minha nossa senhora !!! Pão de canela com cobertura de açúcar cristalizado acompanhado de capucino.


Alguns enlatados foram gratas surpresas (saborosos, cremosos, etc) outros uma porcaria, mas abriu comeu, lei do Flyer.

Outra atividade a bordo que tomava grande parte do tempo era o estudo do Rafael. Eu me transformei num professor em período integral. Em 24 dias de travessia ele fez as tarefas de 2 bimestres que estava acumulado.

O tempo passado junto com o Rafael me ajudou a parar de fumar. Assim que os cigarros acabaram a bordo eu tive que parar de fumar de verdade (a decisão de não levar cigarros era para que a decisão de parar de fumar fosse a única possível). Parei e pronto.

A rotina foi ficando cada vez mais presente, levantar, tarefas com o Rafael, verificar meteorologia, verificar posição e rumo, verificar mudança de rumo para alcançar mais vento, ajustar navegação, lavar louça, almoçar, soneca, banho, mais tarefa com Rafael, mais ajustes na navegação, mais louça para lavar, jantar, filminho a bordo, sono (profundo e tranquilo)

Os dias passavam lentamente, nossa rotina, as coisas do barco, tudo muito simples. Alias a vida é simples, nós é que nos esforçamos para deixá-la complicada e difícil...

A chegada a Flores era esperada e na ante-véspera uma surpresa...


O Rafinha pegou um convidado que resolveu ficar para jantar (alias, foi o jantar).

Flores estava na proa, não visível, chuva forte acompanhada de ventos de 20 a 24 nós e mar de 2 a 3 metros foram companheiros do último dia e noite da jornada. Eu tinha planejado chegar durante o dia, mas com todo esse vento o horário de chegada seria transferido para a madrugada. Não gosto de chegar a noite em local que não conheço, então reduzi velas o máximo para manter um pouco de controle por causa das ondas de popa, mesmo assim não conseguia seguir a menos de 5 nós.

Ao identificar as luzes de Flores eram 3 da manhã. Marquei o ponto na entrada do molhe e toquei para lá. Acabamos por chegar as 7 da manhã o que nós deu tempo para soltar âncora e dormir um pouco para depois adentrar a marina.

A travessia do Atlântico ainda não acabou, mas esta pernada foi muito bem obrigado

A dimensão da pernada dá para ver abaixo




Fim da Parte I

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Estamos de Saída

Pessoal

Estamos de saída de St Maarten. Nosso tempo de Caribe está chegando ao fim. As últimas compras já foram feitas. Agora é sair do Lagoon e esperar a chegada de algum vento para seguir para Açores.

Faremos a viagem junto com o Bravo Uno, o veleiro do Paco e da Silva. Vamos na rota direta, dependendo do vento.

Quem quiser acompanhar nossa rota pode pegar no link a esquerda "Onde Estamos ?"

Que o Eolo seja generoso, mas não muito e que Netuno fique dormindo enquanto atravessamos.

Até a próxima

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Preparação para travessia

Hoje, dia 6 de maio de 2011 estamos quase prontos para iniciar a viagem de travessia do Atlântico Norte. São mais de 2000 milhas de oceano até a chegada aos Açores.

O "quase" é uma medida interessante. Gastamos 80% do tempo disponível para fazer 95% das coisas e depois gastamos o mesmo tempo para fazer os 5% do que falta.

Minha chegada ao Flyer, depois da temporada de afastamento, foi uma surpresa muito boa. O bichinho tava um brinco. Ainda conheci o Ronny, comandante do Luar. Ele nos deu um presentáço: Abrigou o Caio e o Rafa para minha primeira noite de retorno ao Flyer. Olha que eu estava precisando muiiiiito disso. Foram mais de 60 dias de afastamento de minha esposa amada.... Vixe !!!

Conheci também outros velejadores, O pessoal do Mema, que vive por aqui. O Rafael, que também está por aqui na labuta, além de outras figuras interessantíssimas que só os marinheiros conhecem.

Estou me integrando aos poucos com aquela rotina de velejador em beira de cais.

Eu deixo meu último post reservado para véspera do soltar âncoras. Quem quiser acompanhar meu caminho, quando sair, é só procurar o link da seção "ONDE ESTAMOS ?" que vai para página do SPOT onde existe um registro das posições da travessia marcados via SPOT.

Estou feliz...

E as águas continuam esquentando. Os ventos estão vindo do norte. A travessia é iminente

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Lembrando um pouco de Taoismo

Eu preciso me desculpar com os marinheiros de plantão. Quando resolvi escrever sobre a viagem eu estava certo que o que seria mais útil para as pessoas seriam as informações náuticas e técnicas, tais como waypoints, rumos, tempos de navegação, previsões meteorológicas, etc.

Isso é um mundo que cada comandante tem a obrigação de trilhar. Eu acho que a coisa mais importante realmente é fazer a viagem. As dificuldades aparecerão. As pessoas no mar se ajudam. Mas a única forma de entender isso é viajando.

Durante a viagem descobrimos lugares maravilhosos, pessoas maravilhosas e outras nem tanto, culturas interessantes, idiomas e sotaques diferentes, costumes completamente distintos dos nossos. Fica aqui uma confissão: Sinto-me um ignorante porque a quantidade de coisas que eu desconheço é muiiiiito maior que a quantidade de coisas que eu já conheci. Eu posso dizer do alto de toda a minha experiência que eu nada sei. Isso me lembra Sócrates que eu sempre respeitei.

Mas nada de filosofia. A viagem continua e eu achei que já era hora de atualizar o mapa de navegação, então vai abaixo nosso trajeto



As águas estão perigosamente tépidas, os ventos começam a mudar. A hora de sair está muito próxima

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Homenagem a Tiradentes e ao povo mais sangue de barata que já vi em minha vida

Sangue de barata !!!

Neste dia 21 precisamos lembrar de fatos históricos. Então um amigo (Obrigado Augustinho) me passou um email e eu resolvi compartilhar.

Durante o século 18, o Brasil Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal. Esse tributo incidia sobre tudo o que fosse produzido em nosso país e correspondia a 20% (ou seja, 1/5) da  produção. Essa taxação altíssima e inepta era chamada de "O Quinto". Esse imposto recaía principalmente sobre a nossa produção de ouro.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBPT,  a carga tributária brasileira deverá chegar ao final do ano de 2010 a 38% ou praticamente 2/5 (dois quintos) de nossa produção

E pensar que Tiradentes foi enforcado porque se insurgiu contra a  metade dos impostos que pagamos atualmente!!!!!!

Só uma conclusão é possível: TODOS OS BRASILEIROS ATUALMENTE TÊM SANGUE DE BARATA NAS VEIAS !!! QUE VERGONHA.

O que eu estou fazendo a respeito disso: Pouca coisa: Junto com alguns amigos estou colocando a boca no trombone. É suficiente, não, mas eu resolvi também velejar ao redor do mundo em meu veleiro com minha família.

Quero então compartilhar uma realidade. Até agora foram mais de 10 países visitados e o lugar mais caro do mundo continua sendo o Brasil. Alguns podem falar: Mas que absurdo.

Eu digo que pagar R$ 0,01 que seja para não ter qualquer tipo de contra-prestação por parte do poder público é muito caro. Alguns podem alegar que na Suécia ou na Finlândia se paga mais imposto, será mesmo necessário qualquer comentário ? Outros podem falar que em todos os países desenvolvidos os impostos são altos... Outra vez é eu me pego pensando: Será realmente necessário comentar estas afirmações ?

Só sei que a sensação de indignação é cada vez maior... Fico com nojo da política brasileira. Fico com nojo dos políticos brasileiros, fico com nojo do governo brasileiro, fico com nojo do estado brasileiro. Agora estou decidindo se ficarei enojado com o povo brasileiro...

Se nada fizermos, então não me sobra outra opção a não ser sentir-me enojado com o sangue de barata que roda nas veias do povo que não merece outra coisa senão o que está acontecendo.

Façam algo e façam logo. Eu quero acreditar !!!

As águas estão mais tépidas, os ventos estão mudando. A hora da travessia se aproxima rapidamente.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um pouco de filosofia

Pessoal

A gente que vive velejando por ai acaba por aprofundar as relações com o meio ambiente e superficializar as relações com as pessoas. Muitos vem e vão em poucas semanas, alguns em poucos dias. Outros permanecem mais tempo. As relações no mar são mais interessantes que as relações em terra. O que une as pessoas do mar não é o interesse, mas a afinidade. Todos gostamos do mar. Todos estamos ligados pelo mar. Gostamos da liberdade. Isso tem um preço a pagar.

As vezes achamos que tudo gira em torno de nossas vidas ou nossas realidades. Muito longe de ser verdade o que percebo é que as coisas acontecem e pronto. Simples assim. A impressão que as coisas acontecem para você é errada. Esse é parte do preço a pagar de viver uma vida mais simples, com um pouco mais de humildade, especialmente quando se percebe o quão somos pequenos. Meu Deus !!! Teu mar é tão vasto e meu barco é tão pequeno...

Só algumas coisas realmente parecem imutáveis. Se você veleja com a família as relações familiares são muito afetadas. Na maioria das vezes de maneira muito positiva. Deitar no convés numa terça-feira a noite com seus filhos, olhar para o céu, contar estrelas cadentes e fazer desejos. Compartilhar tempo e esperança. Isso não tem preço.

Tem outras horas que me vejo pensando: Qual dos dois filhos eu vou jogar no mar, principalmente depois de alguns dias de navegação em mar aberto...

E as relações com a Almiranta. Essas são tão profundamente afetadas que cabe uma enciclopédia inteira só para discutí-las. No Flyer eu sou o Comandante. A Miriam é só a Mandante... Isso dá uma certa dimensão as coisas.

Mas ontem eu ri de verdade. Eu conheci o Mario via skype e ele me colocou diante da verdade universal para todo homem do mar (segundo ele). Ele é casado com a Paula e moram no veleiro deles que atualmente está no Caribe.

Ele me deu um lampejo de filosofia após muitas rizadas, ele falou: Eu sou o capitão do meu barco e mando em tudo. A Paula só manda em mim !!!

E as águas estão ficando tépidas. A hora de atravessar se aproxima !!!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

sábado, 2 de abril de 2011

Eu não estou no Caribe, mas as fotos !!!

Algumas fotos que a Miriam mandou eu coloquei abaixo. Assim não sou somente eu que fico babando...

Veleiro Falcão Maltes

Veleiro Mirabella

É de babar !!!

Preciso lembrar que o Flyer cabe na área de bagagem destes dois veleirinhos ...

domingo, 6 de março de 2011

Algumas imagens falam mais que muitas palavras

Nos últimos posts deixei as imagens de fora. Agora é hora de algumas imagens. Vou escrever pouco e mostrar mais. Seguem algumas imagens

Até que enfim tubarões
A chegada a Tobago Cays
O Caio pensando
 O Rafinha em Union Island
Uma paisagem do alto (Union Island)
 O Flyer descansando em Lençois
 Rafael e Bianca nas dunas
 No cenário dos Piratas do Caribe
Mais uma locação dos Piratas do Caribe (St.Vincent)
 Entre St Vincent e Béquia
Uma casinha do Caribe em St. Lucia
Uma das praias de St Lucia
 Lagostada em St Vincent