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Bem-vindo a nossa casa.

Aqui contamos histórias sobre nossas peripécias dando a volta ao mundo em nosso veleiro. Nós somos: Fabio, Miriam, Caio, Rafael e Cacau e não sabemos onde vamos parar, só sabemos que vamos "Para onde o vento vai".


Escolhendo o veleiro certo


A odisseia de escolher um veleiro é a viagem da dúvida. Será este ou aquele? devo pensar em que tipo de detalhe ? A quantidade de dúvidas que surgem é tão significativa que assusta, afinal é uma escolha que poderá representar muito prazer ou uma enorme dor de cabeça.


Neste artigo estou trazendo um pouco de experiência que tive coletando informações, vendo e prevendo situações e pesquisando muiiiito, mas muiiiiiiiiito mesmo acerca deste tema.

Quem estiver nesta mesma situação e não sabe por onde começar, pode tomar esta pequena contribuição como ponto de partida. Eu mesmo trago alguns trechos de artigos traduzidos e interpretados para ajudar a pessoas que, como eu, estão um tanto perdidas neste universo.

A ODISSEIA DA ESCOLHA DE UM VELEIRO
Antes de mais nada: SIGA SEMPRE A FILOSOFIA KISS
K: Keep = Mantenha
I: It = Isso
S: Stupid = Estupidamente
S: Simple = Simples

Quem quer viver no mar ou fazer um cruzeiro de sucesso precisa lembrar sempre desta filosofia. Ainda mais que a quantidade e diversidade de equipamentos, eletrônicos ou não, para colocar à bordo é quase infinita.

Conhecendo você e seus gostos
Antes de iniciar o processo de seleção de um barco é necessário encontrar o que realmente você deseja: Velejar ou viver confortavelmente abordo. Se você não é um marinheiro experiente, considere fazer um curso onde você viverá e velejará enquanto aprende os artifícios desta nova realidade. Muitos marinheiros experientes não têm prazer em grandes travessias e preferem cruzeiros costeiros curtos. Outros preferem não ver terra a não ser na chegada de uma longa travessia. Isso é muito pessoal e não se pode transferir de uma pessoa para outra. Procure, antes de qualquer decisão, escolher que tipo de marinheiro é você e sua tripulação a não ser que planeje navegações em solitário. Faça sua “tripulação” participar do projeto desde o início.
Tire suas habilitações (arrais, mestre e capitão amador), compre e estude o livro "Velejando dos 8 aos 80", faça um cursos de vela básica e, depois de estudar o livro e velejar em pequenos veleiros, participe de um curso de vela oceânica de no mínimo uma semana, menos que isso não ajuda em quase nada, mas veja bem, vela oceânica é dia e noite, com travessia e navegação noturna. Se sobreviver com o mesmo gosto que antes, seu sonho tem alguma chance de se realizar, senão, pense em comprar uma motocicleta ou uma casa na praia.
Depois disto você deverá alugar (charter) um veleiro, comece pequeno, um delta 32 ou um Brasília 32, é uma ótima pedida. Alugue-o por uns três dias, mas na primeira vez alugue o veleiro com SKIPPER. O SKIPPER dará todas as instruções e mostrará roteiros seguros e bonitos que você deverá repetir depois sem o SKIPPER.

Experimentando com a família
Se o seu sonho deve ser compartilhado com a família (esposa e filhos) então tenha certeza que eles REALMENTE querem compartilhar SEU SONHO. Depois daquela primeira vez com SKIPPER, alugue o mesmo tipo de barco, no mesmo local e faça, desta vez SEM SKIPPER, um charter com a família. Planeje pelo menos 5 dias de vida a bordo. Gaste um mês vendo os detalhes desta viagem, não se esqueça de nada que ELA gosta e de nada que eles possam reclamar que está faltando. Você deve ter atividades voltadas para eles durante os 5 dias.
Depois disso participe de algum cruzeiro de longo percurso, novamente sozinho, a dica aqui é fazer os cruzeiros associados a ABVC (Associação Brasileira de Velejadores de Cruzeiro) como tripulante. Uns 10 dias em cruzeiro deverão mostrar para você se o seu sonho não se transformará em PESADELO.
Claro que depois disso você saberá melhor que ninguém que tipo de navegação você estará enfrentando com maior freqüência e isto influencia de maneira significativa sua escolha e os tipos de barcos disponíveis no mercado.

Comprar ou construir

As opções são:
  • Eu vou comprar um projeto e construir meu veleiro: Esta opção depende de você ter tempo disponível, horas e horas a fio cuidando de detalhes, lixando, esperando a cura e a secagem, lixando novamente, etc. A questão orçamentária fica inteiramente sob seu controle. O problema é o tempo que levará para você navegar; Por incrível que pareça a construção amadora é mais cara e demorada;
     
  • Eu vou comprar um projeto e contratar serviços profissionais para construir meu veleiro: Esta opção é para aquele que quer construir um barco inteiramente customizado para seu gosto, mas não tem tempo ou habilidade manual para tanto. Existe menos maleabilidade orçamentária, mas o prazo final pode ser reduzido. Detalhe importante: Se contratar um estaleiro para produzir seu barco, conheça outros clientes do mesmo estaleiro que tem barcos recentemente construídos e, especialmente, os barcos construídos a mais de 5 anos. A qualidade da construção se manifesta de maneira incisiva ao longo da vida útil da embarcação, ainda mais ao longo da segunda metade da vida útil, que via de regra pode ser estabelecida em aproximadamente 20 anos. Claro que existem barcos com mais de 100 anos, feitos de madeira e ainda em ótimo estado, mas estão é outra questão a ser analisada em outro artigo;
     
  • Eu vou comprar um veleiro produzido em série: A principal vantagem aqui é: Começo a navegar logo na entrega da embarcação. Outra vantagem deste modelo de aquisição é que barcos em série já tem soluções para a maior parte dos problemas ocorridos na navegação, o que implica em uso de tecnologia. Escolha um estaleiro que tenha projeção e que possa atender sua demanda de manutenção a longo prazo. A grande desvantagem é a questão orçamentária que pode implicar em maior investimento inicial. Estude a possibilidade de financiamento ou mesmo leasing e compare entre comprar dentro ou fora do Brasil (ficará surpreso !).
Uma decisão importante a ser tomada antes de procurar veleiros disponíveis no mercado é saber se você é daqueles que tem habilidade manual para construir seu próprio veleiro e tem tempo suficiente para investir neste empreita.
Algumas pessoas estão construindo seu barco durante os último 10 anos. Outros conseguiram fazê-lo, com recursos próprios e com o tempo disponível em 5 anos. Bom, neste tempo todo eu já teria dado pelo menos uma volta ao redor do mundo e seu veleiro não foi sequer para água ainda. Parece uma decisão muito fácil, mas não é. Esta decisão é pessoal e intransferível. Não peça conselhos. Localize quem está construindo seu próprio barco e converse com ele. Normalmente esta pessoa terá prazer em contar suas experiências porque construir seu próprio veleiro era o sonho da pessoa.
Se por acaso você tiver os dois sonhos, não tem muito tempo livre e não está totalmente seguro de que conseguirá realizar os dois sonhos pense na opção de construir seu próprio barco de apoio. Neste caso compre um projeto pequeno, compatível com o barco que você pretende comprar e construa-o. Outra dica, desta vez a dica final: Contrate um profissional para gerenciar a obra e tocar as questões do dia a dia da construção ai você deixa com este profissional a parte chata de qualquer construção, lidar com a mão-de-obra necessária para as partes mais complexas ou difíceis do processo.

Que tipo de barco
Não dá para ter tudo ao mesmo tempo. Muitas pessoas gostariam de um barco que fosse muito rápido, extremamente estável, fácil de velejar, pequeno mais muito grande, muito simples mas com todos os recursos mais modernos e sofisticados, quem nunca afunde mesmo que exploda e pegue fogo, barato como uma jangada cearense mas com toda pompa e circunstância digna de um rei.
Você sempre precisará sacrificar algo. Você deverá tomar algumas decisões em conjunto com sua “tripulação”...

Barco de regata
Aqui o objetivo principal é a velocidade. Neste caso irá sacrificar algum conforto interno e o barco tenderá a ser mais arisco e com mais “emoção” nas velejadas. Sua experiência marinheira e de sua tripulação será posta a prova. A estrutura do barco tende a ser mais exigida pois estes barcos costumam ter mais área vélica, menos peso, etc.. Pense assim, um carro de fórmula 1 é projetado para ganhar uma corrida e não para durar 200.000 Km. Barcos realmente de regata ficam em vagas secas e só vão para água paras as regatas ou treinamento. Ou seja, o foco é outro.

Barco de cruzeiro (Segurança)
Aqui a preocupação é mais com o conforto e a segurança mas existem vários níveis de conforto e segurança e até aonde você está disposto a sacrificar a velocidade de seu barco em função disto. Outra coisa, conforto e segurança são coisas que não andam necessariamente juntas. Você também precisará fazer algumas escolhas em relação a isto.
Escolher um tipo específico de barco de cruzeiro é a decisão mais importante que você deve ter, lembrando que a questão pode ser resumida em "vamos fazer cruzeiro por algum tempo" ou "vamos atravessar oceanos". No primeiro caso o barco será obviamente um cruzeiro costeiro com características muito diferentes das do barco do segundo caso que será um cruzeiro oceânico (bluewater).
Obviamente não existe um barco perfeito para todos. O barco que você escolher deve ser seguro, confortável, bem construído e capaz de travessias, sem esquecer que você deve resguardar seu investimento para que, ao final ele não represente grande perda financeira.

Performance x Segurança
Esta questão não é tão simples de resolver. Um barco de boa velocidade pode fazer grandes travessias em menos tempo que um barco mais seguro e estável. Isto implica em menor probabilidade de encontrar tempo ruim, mas encontrando tempo ruim um barco seguro e estável é mais fácil de conduzir e exigirá menos da tripulação. Não se esqueça que sua tripulação será, provavelmente, sua família.

Prazo para escolher
O processo de estudar, entender, experimentar um barco de cruzeiro leva no mínimo 1 ano. Você deve localizar, examinar pessoalmente, velejar no barco pretendido e se a compra recair sobre um barco usado você deve sempre, em todos os casos, contratar um profissional especializado para examinar o barco (Surveyor). Não se esqueça que você tem uma disponibilidade financeira, desde o momento da compra do veleiro até o momento da venda. Isto quer dizer que durante o uso que fizer do barco você deverá ter no seu orçamento as variáveis de manutenção muito bem equacionadas.

Investimento e poupança
Se você fizer uma escolha errada, novo ou usado, você pode ter uma enxurrada de problemas que vão desde problemas estruturais, vazamentos, travessias muito lentas e cansativas, reparos sem fim e ao final um péssimo preço de revenda. Usualmente o dinheiro para investir num barco é parte significativa da poupança das pessoas e se você escolher muito bem você poderá reaver parte importante da poupança investida na hora de vender.

Tamanho do Barco
Dois pontos muito importantes a lembrar na hora de escolher o barco são: tamanho e custo. O tamanho do barco que você escolher afeta diretamente seus custos de cruzeiro a curto, médio e longo prazo, não somente no valor do investimento inicial também nas despesas de cruzeiro.
Poucas pessoas entendem que preparar um barco para um cruzeiro longo pode facilmente alcançar de 30% a 50% do valor do próprio barco. Se pegar o exemplo de um barco de 40 pés novo ou usado isto pode representar entre R$ 120.000 e R$ 200.000 em equipamentos essenciais incluindo velas sobressalentes, salvatagem, eletrônicos, comunicações, custos de manutenção e instalação, motores de poupa, dingues, equipamentos de mergulho e caça, equipamentos de pesca, conforto pessoal, refrigeração, gerador de energia, painel solar, gerador eólico, catracas elétricas, piloto automático, e muito mais do que você pode imaginar.

Barco Velho
Uma questão relevante: Um barco com uns 20 anos de uso precisa trocar o estaiamento, os tanques de água e combustível, o motor, além de fazer melhorias no sistema elétrico trocando fiação e disjuntores. Estas coisas podem facilmente chegar de 50% a 100% do valor de investimento inicial. Pense bem antes de comprar um usado com 20 anos ou mais de uso. Você pode estar pagando somente a metade do valor no barco e a outra metade você vai pagar na reforma.

Recomendações financeiras
É normal gastar na compra do barco mais que o orçamento inicial disponível ou mesmo gastar mais dinheiro em equipamento que não é necessário ou essencial e acabar ficando com pouca disponibilidade financeira para completar o provisionamento do barco antes mesmo de iniciar seu uso. Evite comprar um barco que não caiba no seu bolso, fica difícil manter e rapidamente se transforma num pesadelo com perda significativa de recursos.
Uma alternativa muito melhor para você que, como todos os mortais tem um orçamento fixo é gastar menos na compra do veleiro que seja BEM CONSTRUÍDO ou comprar um veleiro novo, porém um pouco menor que o veleiro dos seus sonhos. Em seguida você deve comprar os equipamentos necessários para o tipo de cruzeiro que você pretende fazer, sem os quais não será possível ter sucesso na empreitada, por questões de segurança ou mesmo por questões de obrigações legais. Depois disso você deve calcular que um casal consumirá, em cruzeiro, entre R$ 1.500 e R$ 3.000 por mês, considerando pequenas despesas com o barco. Se o casal pretende fazer cruzeiro pelo prazo de um ano deverá ter, além do capital para compra do veleiro, disponível o equivalente a R$ 36.000. Depois de calculado o prazo total em anos da viagem você deverá multiplicar por R$ 36.000 e somar ao valor de compra do veleiro. Depois você poderá comprar os equipamentos não essenciais que você acha que valem a pena ser comprados.
Neste momento você saberá quanto da sua poupança será usado na viagem de sua vida e se ela será suficiente, caso contrário você precisa planejar algumas paradas para refazer seus fundos, trabalhando onde der naquilo que você souber fazer. Para alguns velejadores este é um meio de vida, para outros é um martírio. Escolha o seu lado.

Casais e agregados e custos
A maioria dos barcos em cruzeiro por um ano ou mais são administrados por casais e neste caso um barco entre 35 e 45 pés geralmente será a melhor opção, particularmente se o casal ainda não tem muita experiência. O custo em tempo e energia para manter um veleiro de 50 ou 60 pés versus o custo de manter um veleiro de 40 pés é significativamente mais alto, ainda mais se existir muita tecnologia embarcada, muitos eletrônicos, muitos dispositivos elétricos, muitas horas de gerador, muito diesel, etc.
Pense bem no tamanho porque ele será um custo que te acompanhará por toda a viagem, quer você queira quer não.
Um barco de 40 pés consome de 3 a 5 litros de diesel em velocidade de cruzeiro de 5 nós. Um barco de 50 pés consumirá mais diesel para manter os mesmos 5 nós de velocidade. Fora o gerador bebendo gasolina ou diesel para fazer funcionar a cidade de luzes que você tem dentro do seu veleiro. Economize o máximo que puder neste item. Tudo pode depender do motor, da qualidade de combustível, da manutenção preventiva obrigatória, etc.
Atualmente os custos para adquirir e manter um barco de 50 pés estão menores que no passado e estes barcos vêm com sistemas que permitem navegação quase sem esforço, entretanto os custos de manutenção vão subindo paulatinamente a medida que os barcos vão ficando mais velhos.
Em regra geral um barco com 35 pés para um casal é suficiente. Para cada agregado acrescente mais 5 pés. Ou seja um casal com 2 filhos podem fazer uma bela viagem com um barco de 45 pés. Esta não é regra absoluta como nada na vida é absoluto. Depende muito do seu estilo de vida. Já houve casais com filhos que deram a volta ao mundo num veleiro de 29 pés, enquanto outros não se gostaram de um veleiro de 54 pés.
Entenda que o tamanho do barco é proporcional ao custo de mantê-lo, mas seu desejo de conforto e seu orçamento definirão o tamanho do barco. Hoje em dia é comum você ver, em projetos pensados para o cruzeiro em família, a existência de máquina de lavar roupa, microondas, forno, cabine para o escritório ou uma cabine de trabalho, televisão com dvd e sistema de som, etc. Tudo isto precisa de espaço para ser acomodado, portanto pense em quais itens de conforto você não abre mão e procure projetos que tenham estes itens. Só depois disto você saberá o tamanho do barco que você procura.
No passado os cruzeiristas velejavam em barcos de menos de 30 pés, pois não havia qualquer futilidade a bordo. Na verdade os equipamentos não diferiam muito dos existentes nos veleiros do século XIX e todos os trabalhos a bordo tinham de ser feitos à mão sem as “facilidades” modernas.
Com a evolução tecnológica os barcos precisaram ficar cada vez maiores para acomodar toda a tralha indispensável á sobrevivência do ser humano moderno. Atualmente grande parte dos barcos de cruzeiros já contam com os seguintes itens indispensáveis:
  1. Catracas e guinchos elétricos;
  2. Velas com enrroladores automáticos;
  3. Máquina de Lavar e secar;
  4. Microondas;
  5. Ar condicionado;
  6. Freezer e geladeira;
  7. Água quente;
  8. Telefone e TV via satélite; e
  9. Internet banda larga.
Bem, tudo isso não cabe em um barco de 30 pés. Por isso os barcos estão ficando cada vez maiores e não é de se estranhar um casal optando por um barco de mais de 45 pés.
Antes da era do conforto um barco de mais de 45 pés seria impensável para um simples casal.

Tripulação
Barcos maiores fazendo cruzeiros longos apresentam, muitas vezes, problemas para localizar ou manter tripulantes necessários a atender as especificações dos locais onde você pretende navegar. Não se esqueça destas limitações porque se você comprar um barco que precisa de dois tripulantes você precisará planejar os turnos para que você sempre tenha dois tripulantes acordados e numa tripulação com um casal e dois filhos pequenos isto será um grande problema. Pouquíssimos viajantes ficam acordados o tempo todo durante a travessia.
Contratar um tripulante para as travessias apresentará mais um fator em termo de custos, mesmo que o tripulante não cobre qualquer remuneração, pois ele consumirá recursos de qualquer forma, além do que será uma pessoa a mais dormindo, comendo, vivendo junto com sua família. Pense bem no tamanho para não ter esta dor de cabeça.

Doenças, enjôos e dificuldades
Outra questão que influencia o tamanho do barco é: você deve estar preparado para tocar sozinho seu barco, ou pior, sua companheira deve estar preparada para fazer isso. Enjôo ou doença podem afastar de maneira importante sua parceira ou mesmo você, deixando somente uma pessoa para as tarefas da navegação, trocar ou recolher velas, ajustar e planejar rumos, controlar equipamentos e detalhes que passam despercebidos depois de 30 horas acordado debaixo de um tempo ruim, com ventos fortes e ondas desencontradas.
Acima de 40 pés será muito interessante colocar guinchos e catracas elétricas e para travessias, em qualquer tamanho de barco será necessário colocar um piloto automático bem dimensionado. Não economize neste equipamento. Ele vai salvar sua vida em várias situações e a melhor coisa a fazer é estimar a capacidade com muita cautela.

Avaliação Profissional do Barco: Survey
Contrate um profissional para avaliar o barco escolhido, antes da compra. Procure um avaliador especializado no tipo de barco para o tipo de cruzeiro que você pretende fazer. Pesquise você mesmo e procure este profissional, dando preferência ao que você escolher. Estude o currículo dele e converse com proprietários que já tenham usado os serviços deste profissional. Não aceite surveyor que tenha algum tipo de interesse na transação, afinal você quer que a avaliação seja sobre a segurança da compra e da navegação posterior. Lembre-se que este profissional não irá navegar com você.
Se você tem algum profissional de sua inteira confiança considere a possibilidade de pagar-lhe as despesas de deslocamento para fazer uma avaliação profissional ao invés de contratar um profissional local no qual você não deposita a mesma confiança. As empresas de seguro náutico costumam recomendar este tipo de profissional, converse com algum corretor de seguros especializado na área.
As vezes, dependendo do tamanho do barco, você deverá contratar o profissional especializado em cada detalhe. Um para o motor, um para a parte elétrica e eletrônicos, outro para o casco, um para tralha de vela e as próprias velas.
Em todos os casos, obtenha do profissional um laudo por escrito com a recomendação de compra, o preço de mercado, o preço da embarcação avaliada, suas considerações e anotações, os problemas existentes e potenciais, as reformas necessárias e as que podem ser planejadas e ao final, somente realize a compra se o profissional indicar que é um bom barco e que é seguro para a navegação que você pretende fazer.

Quero comprar um barco usado
Um barco usado que fique guardado em vaga seca por longos períodos envelhece muito mais devagar que um barco usado guardado em vaga molhada. A diferença é de 1 para 2, ou seja se você comprar um barco guardado no seco com 10 anos ele terá a mesma idade aparente que um barco usado guardado na água por 5 anos.
Em locais onde os mares são brandos e os ventos calmos, os barcos tendem a ser mais leves e fracos que em locais onde os mares são bravios e os ventos ferozes. Estude o roteiro da costa (publicação náutica) do local onde você pretende comprar o barco para saber quais são as condições de navegação. Isto dará uma dica de que tipo de estaleiro e projetista existe naquelas paragens. Lembre-se entretanto que sempre existem especialistas e picaretas. Isto é um atributo humano.
Barcos mantidos profissionalmente são mais valiosos que barcos mantidos por amadores. Existem, no exterior, empresas especializadas em cuidados e manutenção dos barcos. Se for o caso exija um certificado de proficiência da empresa que mantém o barco. Outra hipótese de manutenção mais cuidadosa é a realizada diretamente pelo marinheiro profissional da embarcação.
Nunca confie que marinas pequenas façam manutenção preventiva, alias desconfie de guardarias e marinas quanto a sugestões ou recomendações sobre qual barco comprar, elas, quase sempre, têm interesse na venda.

Comprando um barco em outro país
Nunca se esqueça que para adquirir um barco em outro país será necessária um transação em moeda corrente do local da compra, o que pode implicar em escolher o melhor momento para comprar em função da cotação de conversão da moeda escolhida. Quando o US Dollar está em baixa pode ser um bom momento para comprar, pois menos R$ serão investidos na compra.
A situação econômica do país onde está o barco está a venda (usado em geral) deve ser considerada. Barcos de esporte e recreio, em quase todos os locais do mundo, são considerados bens supérfluos. Quando um país entra em recessão a classe média, que é em sua maioria a detentora de veleiros de tamanhos variando entre 30 e 50 pés, acaba se vendo forçada a vender seu barco porque ele representa um bem supérfluo que produz despesas constantes.
Não se esqueça também que a escolha de um barco também está relacionada com o local onde você pretende navegar. Se você compra um barco de um fabricante Europeu para navegar no Brasil, lembre-se que será muito interessante se este fabricante tiver um distribuidor ou um revendedor aqui no Brasil. A aquisição de eventuais peças e serviços fica muito facilitada o que, a longo prazo, pode baratear o custo total da propriedade do barco.

Despesas com transporte, seguro e impostos
No custo total da propriedade você não pode esquecer que a aquisição no exterior para navegação no Brasil implicará em custo de transporte e comissionamento (importação) aqui no Brasil, sem falar no seguro específico para o transporte. Especialmente no caso Brasileiro você compra um barco novo na França por $ 300.000 Euros e paga, somente de impostos, quase o mesmo tanto que pagou para o estaleiro.

Projeto do barco e Construção
Se for possível contate o projetista do barco antes de efetivar a compra. Poucos são os projetos realmente pensados para travessias oceânicas. Você precisa saber se o construtor (estaleiro) seguiu os critérios estabelecidos pelo projetista ao realizar a construção. Isto você só pode acreditar realmente se conversar com diversos proprietários que dão aos seus barcos o mesmo uso que você pretende dar ao seu. Não confie diretamente no estaleiro sem ter certeza de quantos barcos estão navegando e qual o sucesso da construção, além é claro das especificações de cada projeto.
Neste ponto é importante lembrar que a União Européia fez várias leis para uniformizar a qualidade das embarcações produzidas lá. Existe um índice de estabilidade estática (STIX - Stability Index de 1 - 100) que para navegação oceânica deve ser atingido) Os veleiros produzidos na CATEGORIA A de navegação oceânica podem variar, quanto a estabilidade, em valores superiores a STIX = 33. Quanto maior o índice maior será a estabilidade estática. Peça, inclusive, para o projetista que ele mostre as curvas de estabilidade do casco em diversas condições de carregamento, e peça que ele calcule a estabilidade do projeto com base no carregamento que você pretende fazer durante sua viagem, mas lembre-se quanto mais estável é a embarcação menor será o conforto, porque estabilidade demais pode transformar um barco suave em um barco duro.
Outro aspecto importante é quanto a legislação ambiental. Alguns países tem limitações, especialmente na Europa, quanto a possibilidade de esgoto ser lançado diretamente nas águas. Se o barco a ser comprado tem tratamento de esgoto, tenha certeza que ele segue as especificações do local onde você pretende navegar.
Não se esqueça que em alguns lugares os barcos são produzidos com corrente contínua de 12 volts e alternada de 110 volts. Isto pode implicar em problemas se você for navegar em locais onde a corrente alternada do cais seja 220 volts. Outro aspecto desta questão elétrica do projeto é que cabos elétricos de 12 volts são mais grossos que cabos elétricos de 24 volts, o mesmo se aplica a cabos de 220 (240) volts. Desta forma 12/110 volts implicará em mais peso transportado e mais cobre embarcado. Ainda no projeto elétrico você deve atentar para os equipamentos eletrônicos e sua freqüência. Alguns projetos fazem uso de corrente com freqüência de 50hz outros usam corrente com freqüência de 60hz. Alguns eletrônicos adquiridos depois precisam respeitar estas diferenças se você não quiser ter dor de cabeça no futuro bem curto.

Estaleiro ou construtor
Algumas vezes precisamos dizer o óbvio, especialmente quando é óbvio para todo mundo então vamos lá: O construtor deve ter entregue vários barcos para compradores que devem estar satisfeitos, caso contrário fuja dele. Projetos inovadores são arriscados. Outra coisa importante e um tanto óbvia é que se você vai comprar um barco usado opte por escolher um que ainda seja construído ou que o estaleiro ainda exista e esteja em operação. Aproveite para, usando o CNPJ do estaleiro fazer consulta na justiça Estadual, Federal e nas varas do Trabalho. Esqueça isso e você poderá, como eu no passado, investir capital bom em péssimo estaleiro. E põe péssimo nisso.
Se o estaleiro ainda estiver em operação fica mais fácil comprar peças de reposição e obter informações técnicas sobre o casco e sobre estabilidade, além de considerar importante que o preço de revenda de um barco que ainda pode ser construído ou mantido pelo estaleiro que o produziu é maior que se o estaleiro não mais existir.

Performance ao velejar
Você certamente gostará de um barco com boa performance ao navegar e que seja fácil de manejar porque isto permitirá muitas milhas navegadas em pouco tempo. Ninguém gosta de ficar pelejando com um barco lerdo em condições de mar e vento mais pesadas. Em algumas travessias você tem poucas e pequenas janelas de oportunidades e gostaria que seu barco andasse uns 2 nós mais rápido entre uma e outra aproximação de frente.
Uma boa performance ao velejar, mesmo em condições de tempo e vento suaves, representam uma maior autonomia sem uso de motor o que representa economia.

Aspectos negativos de um projeto

Gurupês: maiores que 24 polegadas freqüentemente prejudicam a ancoragem em locais estreitos;

Borda livre pequena: Pode indicar um projeto que produz muito spray e embarca muita água em travessias oceânicas;

Borda livre muito grande: Em geral representa performance pobre para subir o vento (orça) e uma tendência de andar para trás (garrar) quando ancorado;
Um projeto excessivamente "macio" é interessante para viver, cozinhar, navegar e dormir com inclinação entre 25 e 30 graus toda vez que você estiver velejando o que você pode considerar cansativo. Uma travessia confortável é muito importante para quem quer viver dentro do barco.

Habitabilidade
Qual é seu sonho? Morar no veleiro ou fazer navegação de final de semana. No primeiro caso o veleiro deverá se comportar como sua casa durante o tempo que sua viagem durar. Lembre-se que um veleiro, em regra, será quase tão pequeno quanto um pequeno apartamento.
Outra coisa importante, você não passará mais que 1/4 do tempo em travessias e navegando, enquanto que mais que 3/4 do tempo você estará ancorado. O barco precisa oferecer bom conforto nas duas condições, especialmente quando ancorado.

Capacidade de armazenagem e carga
Espaço para velas adicionais, tanques (água e combustível), cabos, peças de reposição, suprimentos de segurança, salvatagem, roupas, alimentos, livros, etc. Você não pode esquecer que tudo isso vai junto com você. 
Uma regra de estabilidade diz que qualquer peso deve ser colocado no centro e o mais baixo possível, e ser preso de maneira que não escorregue. Um bom projeto de barco deve prover espaço para colocar peso adicional e transportá-lo com segurança. Ancoras sobressalentes e muitos kg de correntes, água e combustível, um barco de apoio e um motor de popa, tralha de mergulho e pesca, tralha pessoal de cada um dos viajantes. O projeto de um bom barco prevê onde colocar todo esse peso de modo a manter em nível aceitáveis a estabilidade do barco.

Monocasco ou multicasco
Eu acho multicascos lindos, espaçosos e rápidos, mas eu não confio em barcos que vem com janelas viradas para baixo com espaço suficiente para que uma pessoa saia em caso de emergência. Os projetistas estão dando o recado, se virar você sai por aqui. O que isto quer dizer: ELE PODE VIRAR E VAI VIRAR SE HOUVER CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE VENTO E MAR.
Os monocascos são mais lentos, navegam inclinados, são menores e são projetados como aquele brinquedo de borracha chamado joão-bobo. Se VIRAR ELE DESVIRA SOZINHO.
Bem ancorado um multicasco é uma opção para viver a bordo muito próxima de uma casa na praia. Navegando é muito bom, mas em condições climáticas severas eu gostaria de estar muito longe de um catamarã.

Projeto das obras vivas (abaixo da linha da água)
Um projeto de quilha longa (a quilha é incorporada a linha do barco) (FULL KEEL) e um leme fortemente amarrado num protetor (SKEG) são as melhores opções para os viajantes que fazem longas travessias e mares agitados ou sujeitos a encontros casuais com objetos flutuantes, redes, destroços, etc, além de apresentar excelente comportamento marinheiro.
Vejamos os projetos mais tradicionais de casco usados por projetistas espalhados pelo mundo

Leme protegido: Pode aumentar a estabilidade direcionais e é um projeto seguro quanto a proteção do leme (passar sobre redes, cabos, etc )
Leme parcialmente protegido: Um arranjo interessante entre segurança e performance. Razoavelmente seguro e mais veloz.
Cutter com quilha longa: Proteger o hélice e não permitir embaraço de qualquer objeto, ou mesmo proteger de impacto na área submersa, pode ser uma excelente opção quando você estiver a mais de 1000 km de qualquer possibilidade de reparo. Claro que aumenta o deslocamento e diminui a performance, mas ...
 
Quilha curta e profunda: O mais rápido e manejável projeto de estrutura abaixo da linha da água... Se a quilha for profunda demais pode oferecer alguns problemas se as marolas oceânicas ganharem altura. Tenha cuidado com este tipo de casco se você pretende navegar por altas latitudes ou locais muito remotos.
Quilha longa com dois bordos: Este tipo de projeto costumava ser a opção mais comum para longas travessias, sofreu várias alterações e modernizações e ainda é uma boa escolha para esta finalidade...
Quilha Montada (FIN KEEL): Modelo de quilha atualmente usada pelos modernos veleiros fabricados em série.
DESENHO
Lembre-se que não existe um projeto que serve para todos os estilos de navegar e para todas as condições de todos os navegadores. Estilos de vida são pessoais e não são padronizados. Lembre-se na hora de escolher seu preferido
Os barcos de desenho moderno tendem a ter a popa bem larga o que aumenta muito o espaço interno mas sacrifica um pouco das condições marinheiras em caso de mar grosso. Aqui o conforto e a segurança não andam de mãos dadas.

Material do casco.
Simplicidade de construção e manutenção, solidez e robustez, capacidade de absorver choques sem quebrar, facilidade de reposição de materiais em qualquer local, capacidade de resistir ao estresse causado pelas grandes vagas oceânicas são algumas das características que se pode exigir de um casco bem construído. O material usado na construção e o tipo de construção são muito importantes para simplificar a convivência com a manutenção de longo prazo e de baratear os custos.

Fibra de vidro: Material em que a qualidade do processo construtivo é muito importante. Isso varia de estaleiro por estaleiro. Se tiver que comprar um barco novo de fibra de vidro tenha a certeza que você escolheu um estaleiro honesto e que tenha larga experiência em construir barcos para o tipo de navegação que você pretende fazer. A maior preocupação com este tipo de material é a eventual e pouco provável osmose. Em alguns casos partes inteiras do casco precisam ser removidas para remoção da osmose (infiltração de água na fibra). Se a fibra é colocada com núcleo de madeira ou balsa, a infiltração certamente implicará no apodrecimento da madeira e na perda da resistência estrutural. Isto implicará em dor de cabeça a longo prazo. Em geral um casco bem construído e bem conversado de fibra de vidro pode durar aproximadamente 20 anos antes de apresentar os primeiros problemas.

Aço: É uma excelente opção de construção de casco e freqüentemente e a opção de velejadores que ficam longos tempos longe de casa. O material é resistente a impactos, é relativamente fácil prender o deck ao casco e com as atuais tintas a base de epóxi os cascos de aço podem durar enquanto houver manutenção adequada e boa cobertura de tinta. Cascos de aço levam menos tempo em manutenção e a manutenção custa menos, além de ser mais fácil achar mão-de-obra. Entretanto estes barcos não costumam ser tão bonitos ou rápidos para os gostos de alguns velejadores. É necessário ter acesso a todo o casco, por dentro, para analisar o estado geral do costado e do fundo. Muita ferrugem implica em mais dor de cabeça. 

Alumínio: São mais leves que os de aço, mas agüentam menos impactos e os reparos podem ser mais difíceis de efetuar e a mão-de-obra mais difícil de localizar. Barcos de alumínio pintados requerem re-pintura muito cara a cada 5 anos, aproximadamente. A questão mais complexa neste tipo de material é a eventual fuga de corrente elétrica. Se existir fuga de corrente o barco derrete junto a energia.

Madeira: Provavelmente porque um barco de madeira oferece muitas oportunidades e fontes de problemas e requer muita manutenção é pouco comum, hoje em dia, comprar e vender um barco feito com este material. Barcos de madeira bem construídos e bem mantidos podem durar mais de 100 anos e são muito tradicionais e bonitos, mas requerem muita atenção e cuidado. Pode não ser fácil encontrar madeira de qualidade para eventuais manutenções e os carpinteiros navais são cada vez mais raros no mercado. Uma boa alternativa para este tipo de barco é o uso de saturação de epóxi de madeira o que produz um barco leve e resistente.

Ferro-Cimento: Puxa, ainda existe alguém construindo este tipo de casco?

Quilhas
Existem dois tipos de velejadores amadores: Os que já bateram em alguma pedra e os que vão bater em alguma pedra.
Algumas vezes você vai navegar em locais cujo mapeamento não é muito preciso, ou mesmo sendo preciso algum erro instrumental ou mesmo de condução pode implicar em encalhar seu veleiro, ou até mesmo bater levemente ou ter que apoiar completamente o barco sobre a quilha.
Algumas considerações sobre lastro devem ser levadas em consideração: Lastro externo preso a quilha precisa ser inspecionado com freqüência e eventualmente pode suportar o peso do barco sobre a quilha. Verifique nas especificações do projeto e se há silencio sobre este aspecto, então converse com o projetista. Outra opção é o lastro interno, colocado dentro da quilha ou mesmo no fundo do casco. Nestes casos a quilha pode não ser estrutural e pode não suportar batidas ou mesmo o peso do barco sobre ela. Esta não é uma opção muito popular entre os estaleiros modernos. No caso de barcos usados contrate um perito para verificar com detalhes todo o barco.

Construção do deck
A superfície da cabine deverá prover uma área antiderrapante que permita a aderência dos pés, em especial nos caminhos onde você terá que passar para fazer alguma manobra de velas e cabos, ou ainda, eventualmente um ajuste, acerto ou manutenção de emergência.

Deck de Teca
São muito bonitos em exposição, mas apresentam ao longo dos anos, se não forem muito bem instalados e mantidos, alguns problemas de manutenção, além de absorverem muito calor. Eu não sentaria numa superfície de Teca que ficou exposta ao sol do meio dia no Caribe. Poderia me trazer lembranças doloridas por algum tempo.
Se a Teca foi colocada sobre camada de plywood isto pode ser um problema sério quando o barco tiver mais que 10 anos. Seja de Teca, seja o deck preenchido com balsa, ou qualquer outra mistura entre composto, fibra e madeira, é amplamente recomendável que você contrate um perito que saiba avaliar barcos com estas características, especialmente para barcos usados. A água irá infiltrar no composto, mais cedo ou mais tarde e os reparos podem ser muito caros.

Cunhos e Ligação entre o deck e o casco
Ao verificar o casco de um barco usado, ou planejando a manutenção de um novo a longo prazo, você deverá considerar que o casco e o deck podem e vão realizar trabalho com torção por conta das grandes marolas oceânicas, especialmente quando o tempo estiver ruim e você estiver em uma travessia. Tudo que você não quer é que o barco faça água justamente no local onde ele deveria ser impermeável. Lembre-se que o deck é feito de material mais leve que o resto do casco, exatamente porque representa peso alto e influi na estabilidade. Desta forma dê especial atenção ao processo de união entre estes dois componentes. Verifique como a junção é realizada nas especificações do projeto. Se não existirem especificações, entre em contato com o projetista e com o estaleiro que construiu sua unidade. Tenha certeza que este componente não vai lhe deixar na mão.
Os cunhos são outros pontos onde reforços estruturais são necessários e sua junção com o deck e com o casco deve ser verificada com cautela. Problemas nestas áreas são complicados de resolver e muitas vezes oferecem grande dificuldade de acesso o que implica em manutenção mais cara e trabalhosa.

Arranjos de velas
A maior parte dos velejadores de longa distância escolhem veleiros armados em SLOOP ou CUTTER. Isto depende da capacidade de manejo das velas, especialmente em barcos entre 40 e 50 pés. Um baby stay pode ser interessante e pode ser usado para colocar rapidamente uma vela de tempestade. Não existem regras muito rígidas neste ponto e armações em KETCH, apesar de incomuns nos dias atuais, são também fáceis de manejar e oferecem uma vantagem de distribuir melhor os esforços pela estrutura do barco sem obrigar o uso de uma genoa muito grande, o que pode reduzir a capacidade de orça, mais oferece mais manobrabilidade geral.


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Repare que o KETCH e o YAWL tem dois mastros, mas no KETCH o mastro de MEZENA fica a frente da linha do leme, enquanto que no YAWL o mastro de Catita fica atrás da linha do leme.
Qual destas armações é mais interessante? A mais moderna é a armação em SLOOP chamado SLOOP Bermudiano. No passado muitos estaleiros preferiam, para barcos oceânicos, a montagem de armações em KETCH, pois não existia tecnologia de materiais necessários a produzir velas e mastros e demais tralhas para veleiros SLOOP de grande dimensão. Com o desenvolvimento de tecidos sintéticos apropriados e com a evolução das ligas de compósitos e fibras especiais para mastros foi possível aumentar de maneira significativa o tamanho dos mastros e o veleiro SLOOP passou a ser a melhor opção.

Estaiamento e transmissão de carga
O estaiamento deve transmitir para as anteparas e para as porções estruturais abaixo do deck toda a carga com objetivo de evitar a torção do deck e de materiais não estruturais projetados para este fim. Verifique se as cargas estão sendo distribuídas e transmitidas diretamente para a base da quilha, isto pode ajudar muito na manutenção de longo prazo do estaiamento. Não se esqueça que o estaiamento deve ser trocado a cada 10 anos, senão mesmo bons projetos não desenvolvem as forças estruturais necessárias por falha na distribuição das cargas.

Sistema de suporte do mastro
Existem dois sistemas básicos de suporte:
  • O mastro atravessa o deck e fica apoiado na quilha;
  • O mastro é apoiado no deck e internamente existe um braço de apoio que chega até a base da quilha.
As duas versões têm prós e contras:
Eu acho interessante o mastro ser apoiado no deck porque no caso de um emborcamento acidental o mastro pode até quebrar ou cair do seu apoio, mas não rasgara o deck permitindo a entrada de água e a perda da embarcação. Este tipo de solução só é eficaz se existir transmissão eficiente dos esforços para a quilha. Caso contrário, escolha o mastro inteiriço que chega até a base da quilha.
Catracas, moitões e outras tralhas
Atualmente existem equipamentos confiáveis para barcos acima de 40 pés. Este é um pré-requisito destes equipamentos. O travamento de uma catraca de genoa ou mesmo da catraca da grande pode ser desastroso. Procure no seu mercado quais são os equipamentos mais confiáveis e verifique as especificações deste equipamento. Depois verifique quais equipamentos estão disponíveis para o veleiro que você pretende adquirir. A mesma análise deve ser feita para o fabricante de mastros.
A posição das catracas e demais tralhas também é muito importante. Largar o leme para soltar um cabo ou para caçá-lo pode ser perigoso, ou ainda, você pode não ficar ao abrigo do DOGHOUSE ao ter que se deslocar para fazer uma manobra de cabo. O ideal é que a tralha fique toda ao alcance da mão do timoneiro.

Plataforma de popa
É um item relevante, especialmente para os que vão fazer cruzeiros com muitas paradas em locais quentes. Uma plataforma de popa grande e confortável para subir e descer oferece, inclusive, maior segurança. Interessante que na plataforma de popa tenha uma forma de prover apoio para os pés, pois pode ser difícil subir a bordo se as marolas começarem a crescer em tamanho.

Motor
O motor deve ser capaz de produzir 6 nós de velocidade (este cálculo depende muito do comprimento da linha da água e do tipo de projeto do casco). Isto permitirá o ingresso e saída seguros para a maioria dos passes e canais onde é seguro navegar. Tenha sempre reserva de potência para chegar a um local onde o vento possa fazer o trabalho de puxar ou empurrar seu veleiro. Isto pode colocá-lo em local seguro enquanto o vento não se faz presente.
É importante num motor que ele seja confiável, que dê baixa manutenção e que a manutenção possa ser realizada nos locais onde você pretende navegar, que você tenha acesso fácil para inspeção e eventual manutenção, que ele possa ser retirado do barco sem ter que cortar ou destruir o interior do seu veleiro. O motor também não poderá gerar muito ruído ou fumaça, além de ser leve e econômico. Lembre-se que um veleiro tem casco deslocante e que não adianta colocar mais potencia que a necessária porque isto implicará necessariamente em manter mais peso de combustível a bordo. É muito importante também que o motor seja de linha e que tenha peças de reposição em abundância.
Você deve ter um motor capaz de dar uma autonomia de 600 a 800 milhas num cruzeiro de longa distância, pois o combustível poderá não ficar disponível por meses a fio.

Hélice
O motor adianta muito pouco se o hélice estiver inadequado, mal dimensionado ou ainda avariado. Procure especialistas em motorização e hélice para dimensionar corretamente o sistema propulsor. Depois de definido o hélice adequado faça vários testes de mar com o mesmo instalado. Depois disso é só comprar um sobressalente para eventuais emergências.

Últimos conselhos
Tenha certeza que você gosta de velejar e que sabe velejar onde você pretende navegar.
Veleje em diversos barcos de diversos fabricantes e faça várias travessias antes de se decidir por um deles, lembre-se que é uma decisão que pode afetar anos de sua vida.
Não gaste mais que 50% da sua disponibilidade financeira com o barco. Você precisa equipá-lo e mantê-lo durante anos e isto representa um custo relevante.
BOA SORTE !!!
Fabio Costantino

Colaboradores:
Meus sinceros agradecimentos aos colaboradores abaixo indicados. Sem vocês o artigo não teria vida.
Obrigado

Manoel Eduardo Beltrão
Luciano de Souza Silva

webgrafia: O artigo original no qual este artigo foi baseado é de autoria de John Neal e foi adaptado por mim, com algumas experiências acrescidas pelos colaboradores que tornaram o artigo mais atual e preciso.http://www.mahina.com/cruise.html#boats4cruising
Bibliografia recomendada:
The Best Used Boat Notebook, John Kretschmer, Sheridan House, 2007.
Twenty Affordable Sailboats To Take You Anywhere
, Nestor, Paradise Cay, 2007.
The Voyager’s Handbook,
 2ª edição, Beth Leonard, International Marine 2006.
Inspecting the Aging Sailboat, 
Casey, International Marine, 2004.Practical Sailor's & Practical Boat Buying, Volumes 1 & 2, Belvoir Publications, Caixa Postal 2626, Greenwich, CT 06836-2626
Practical Sailor
 Dezembro de 1993
Surveying Fiberglass Sailboats
, Henry C. Mustin, International Marine, 1994.
Desirable and Undesirable Characteristics of Offshore Yachts
 - John Rousmaniere.